
Teve pena da Sua obra e veio procurá-la, descendo misericordiosamente para onde ela tinha perecido miseravelmente...
Naquele tempo, Jesus retirou-se para o mar com os discípulos. Seguiu-o uma imensa multidão vinda da Galileia. E da Judeia, de Jerusalém, da Idumeia, de além-Jordão e das cercanias de Tiro e de Sídon, uma grande multidão veio ter com Ele, ao ouvir dizer o que Ele fazia. E disse aos discípulos que lhe aprontassem um barco, a fim de não ser molestado pela multidão, pois tinha curado muita gente e, por isso, os que sofriam de enfermidades caíam sobre Ele para lhe tocarem. Os espíritos malignos, ao vê-lo, prostravam-se diante dele e gritavam: Tu és o Filho de Deus! Ele, porém, proibia-lhes severamente que o dessem a conhecer. (Mc 3,7-12)
Comentário feito por São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e doutor da Igreja
Segui o exemplo de Nosso Senhor, que quis sofrer a Sua Paixão para assim aprender a compaixão, sujeitar-se à miséria para assim compreender os miseráveis. Tal como aprendeu a obedecer, sofrendo (Heb 5,8), quis aprender também a misericórdia. […] Talvez acheis bizarro o que acabo de dizer de Cristo: Ele que é a sabedoria de Deus (1 Cor 1,24), que tinha Ele a aprender? […]
Reconheceis que ele é Deus e homem numa só pessoa. Enquanto Deus, é eterno, teve sempre conhecimento de tudo; enquanto homem, nascido no tempo, aprendeu muitas coisas no tempo. Desde que começou a ser na nossa carne, começou também a aprender pela experiência as misérias da carne. Teria sido mais feliz e sábio para os nossos primeiros pais não terem de fazer esta experiência, mas o seu criador veio procurar aquele que estava perdido (Lc 19,10). Teve pena da Sua obra e veio procurá-la, descendo misericordiosamente para onde ela tinha perecido miseravelmente. […]
Não foi simplesmente para partilhar a sua desgraça, mas por empatia com a sua miséria e para os libertar: para Se tornar misericordioso, não como um Deus na Sua felicidade eterna, mas como um homem que partilha a situação dos homens. […] Maravilhosa lógica de amor! Como teríamos nós podido conhecer esta misericórdia admirável se ela não Se tivesse inclinado sobre a miséria existente? Como teríamos podido compreender a compaixão de Deus se ela tivesse permanecido humanamente estranha ao sofrimento? […] À misericórdia de um Deus, Cristo uniu pois a de um homem, sem a mudar, mas multiplicando-a, como está escrito: Tu salvarás os homens e os animais, Senhor. Ó Deus, como fizeste abundar a Tua misericórdia! (Sl 35, 7-8 Vulg).
Siga-nos e fique por dentro das novidades:
