O Papa Bento XVI afirmou que o martírio de São João Batista, cuja morte a Igreja recorda neste 29 de agosto, ensina aos cristãos de hoje que a Verdade não se negocia e que seguir a Cristo exige o “martírio” da fidelidade cotidiana. O Papa também lembrou aos presentes que rezar nunca é uma perda de tempo.
O Santo Padre fez uma intensa reflexão sobre a vida de São João Batista, o precursor de Jesus, em sua catequese da audiência geral celebrada na manhã de quarta feira, 29 de agosto,em Castel Gandolfo diante de milhares de fiéis reunidos na Piazza della Libertà.
Bento XVI explicou que: “celebrar o martírio de São João Batista lembra também a nós, cristãos do nosso tempo, que não podemos nos esquivar do compromisso com o amor de Cristo, sua Palavra, a Verdade. “A Verdade é a verdade e não pode ser negociada“, asseverou.
A vida cristã, continuou o Papa, “exige, por dizê-lo de algum jeito, o ‘martírio’ da fidelidade cotidiana ao Evangelho, quer dizer, o valor de deixar que Cristo cresça em nós e Ele seja quem oriente nosso pensamento e nossas ações“.
O Santo Padre precisou que tudo isto só é possível quando em nossa vida a relação com Deus é sólida.
“Oração não é tempo perdido, não é tirar o tempo das nossas atividades, incluindo as apostólicas, é exatamente o contrário: só se formos capazes de ter uma vida de oração fiel, constante, confiante, será o próprio Deus que nos dará a força e a capacidade para viver de modo feliz e sereno, superar as dificuldades e testemunhá-Lo com coragem”, enfatizou.
Bento XVI disse ademais que “São Marcos narra sua morte trágica no Evangelho de hoje. João Batista inicia sua pregação sob o imperador Tibério, no ano 27-28, e o convite dirigido às pessoas que se reuniam para ouvi-lo é o de preparar o caminho para acolher o Senhor, para endireitar as veredas tortuosas da própria vida através de uma conversão radical de coração”.
“Mas João Batista não se limita a pregar o arrependimento, mas a reconhecer Jesus como o “Cordeiro de Deus” que veio tirar o pecado do mundo. Tem em si a profunda humildade de mostrar Jesus como o verdadeiro Mensageiro de Deus, colocando-se à parte para que Cristo possa crescer, ser escutado e seguido“, afirmou.
“Como último ato, João Batista testemunha com o sangue sua fidelidade aos mandamentos de Deus, sem hesitar ou retroceder, cumprindo até o final sua missão. São Beda, monge do século IX, diz de João Batista em sua homilia: A [Cristo] deu a sua vida, ainda que não tenha sido obrigado a negar Jesus Cristo, foi condenado apenas por calar a verdade. Mas calou a verdade, morreu por Cristo, que é a Verdade. Exatamente por amor à verdade, não cedeu a seus valores e não teve medo de dirigir palavras fortes àqueles que tinham se perdido no caminho de Deus“.
João é o dom divino que seus pais, Zacarías e Isabel tinham invocado durante muito tempo, um grande dom, humanamente inesperado, porque ambos eram de idade avançada e Isabel era estéril, “mas nada é impossível para Deus“.
O Santo Padre disse logo que “o anúncio do nascimento ocorre exatamente num lugar de oração, o templo de Jerusalém, quando toca a Zacarias o grande privilégio de entrar no lugar mais sagrado do templo para fazer a oferta do incenso ao Senhor”.
“O nascimento de João Batista também foi marcado pela oração: o cântico de alegria, de louvor e de gratidão que Zacarias eleva ao Senhor e que recitamos todas as manhãs nas Laudes, o “Benedictus”, exalta a ação de Deus na história e indica profeticamente a missão de seu filho João, preceder o Filho de Deus feito carne, a fim de preparar seu caminho“.
O Papa ressaltou também que “toda a existência do Precursor de Jesus é alimentada por um relacionamento com Deus, especialmente o tempo vivido no deserto regiões desérticas que são locais de tentação, mas também lugar onde o homem sente a própria pobreza por estar privado de recursos e seguranças materiais e então compreende que o único ponto de referência seguro é o próprio Deus. Mas João Batista não é apenas um homem de oração, de contato constante com Deus, mas também um guia para este relacionamento”.
“O evangelista Lucas, recordando a oração que Jesus ensinou aos seus discípulos, o “Pai Nosso”, observa que o pedido é feito pelos discípulos com estas palavras: “Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou os seus discípulos“.
Para concluir, o Papa Bento XVI fez votos para que “São João Batista interceda por nós, a fim de que saibamos conservar sempre a primazia de Deus em nossa vida“.
Após a alocução o Papa Bento XVI saudou os peregrinos de diversas línguas, entre elas o português:
“Amados peregrinos de Portugal e do Brasil, e demais pessoas de língua portuguesa, sede bem-vindos! Uma saudação particular aos fiéis de Chã Grande, Natal e do Rio de Janeiro. Que o exemplo e a intercessão de São João Batista vos ajudem a viver a vossa entrega a Deus sem reservas, sobretudo por meio da oração e da fidelidade ao Evangelho, para que Cristo cresça em vós, guiando os vossos pensamento e ações. Com estes votos, de bom grado a todos abençoo”.