Pax et Bonum! Amigos, que a Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos vocês!
Conforme publicado em nosso último post, iniciaremos o estudo sobre o livro Contra os Acadêmicos. Nesta parte inicial, o Prólogo a Romaniano, iremos nos ver em meios as exortações de Agostinho como também a algumas definições que irão nos nortear em nossa caminhada apostólica. Diria que, basicamente, estaremos a cada dia, na visão filosófica procurando e arguindo, em nosso Eu, a verdade plena.
Nos capítulos expostos abaixo, podemos já nos ater a alguns conceitos que serão debatidos à frente; destaco que aqui, nestes textos, já podemos até tirar uma bela definição para a providência Divina, porém, São Agostinho não a define, apenas deixa uma trilha para que nós possamos sempre estar buscando esta verdade. Sem mais, iniciemos a leitura!
Virtude, fortuna e Filosofia.
1 – Oxalá, Romaniano, pudesse a virtude, assim como não permite que a fortuna lhe arrebate alguém, por sua vez arrebatar à fortuna resistente o homem feito para ela! Certamente ela já se teria apoderado de ti, proclamando que és seu de direito e dando-te posse dos bens mais seguros, te libertaria até da submissão aos acasos felizes. Mas acontece que, seja por nossa culpa, seja por uma necessidade natural, a alma divina unida ao corpo mortal não alcança o porto da sabedoria, onde não a agitam os ventos prósperos ou adversos da fortuna, sem que para lá seja conduzida pelo favor ou pela desgraça da mesma fortuna. Assim, nada nos resta senão fazer votos para obter daquele Deus de quem isso depende que te restitua a ti mesmo – assim facilmente te restituirá também a nós – e permite ao teu espírito, que há tanto tempo o deseja, elevar-se finalmente à atmosfera da verdadeira liberdade. Talvez o que vulgarmente se chama fortuna é regido por uma ordem secreta e o que chamamos acaso nos acontecimentos se deve ao nosso desconhecimento das suas razões e causas, e não há nenhum acontecimento particular feliz ou infeliz que não se harmonize e não seja coerente com o conjunto de tudo. Esta verdade proclamada pelos oráculos das mais fecundas doutrinas e inacessível às inteligências profanas, a filosofia, para a qual te convido, promete demonstrá-la aos seus verdadeiros amigos. Por isso não te menosprezes se te ferem muitos males imerecidos. Se a divina providência se estende até nós, do que não se deve duvidar, acredita-me, o que está acontecendo contigo é o que é necessário acontecer. Efetivamente, quando entraste na vida humana repleta de todos os erros, com uma índole que não me canso de admirar, e isso desde o início da adolescência numa idade e que ainda é tão fraco e vacilante o passo da razão, cercou-te a abundância das riquezas, que começaram a arrastar para seu abismo enganador aquela idade e ânimo ávido de tudo quanto parecia belo e honesto. Quando já estavas à beira da queda, salvaram-te os ventos da fortuna que se consideram adversos.
2 – Mas, se, oferecendo aos nossos concidadãos espetáculos de ursos e outros antes nunca vistos naquela cidade, sempre fosses acolhidos pelos mais vivos aplausos; se fosses elevado às nuvens pelos gritos unânimes dos estultos, cuja multidão é imensa; se ninguém se atrevesse a ser teu inimigo; se as inscrições públicas de bronze te proclamassem patrono não só dos teus concidadãos, mas até dos municípios vizinhos; se te erigissem estátuas e cobrissem de honras e poderes superiores aos de tuas funções municipais; se preparasses banquetes diários de fartas mesas, onde todos pudessem pedir e receber com prazer e até o que não pedisse; se o patrimônio , diligente e fielmente administrado pelos teus se mostrasse à altura de tanto luxo; se ao mesmo tempo vivesses em suntuosos palácios, no esplendor dos banhos, em jogos de dados que a honestidade não repele, em caçadas, em banquetes; se pela boca dos clientes, dos cidadãos, enfim de todas as multidões, fosses exaltado como o mais humano, o mais generoso, o mais puro, o mais feliz dos homens, quem, Romaniano, ousaria falar-te de outra vida feliz, a única verdadeiramente feliz? Quem poderia persuadir-te de que não só eras feliz, mas tanto mais infeliz quanto menos conhecesses a tua infelicidade? Agora, porém, quantas advertências te deram em pouco tempo os grandes e numerosos reverses que experimentaste! Não tens necessidade de exemplos alheios para persuadir-te de quão transitório, frágil e cheio de calamidade é tudo o que os mortais consideram como bens, e a tua experiência poderá servir-nos para persuadir a outros.
3 – Aquela disposição que te levou a desejar sempre o que é belo e honesto, a preferir a liberalidade à riqueza, a ser antes justo que poderoso, a nunca ceder à adversidade e à injustiça, esse não sei quê divino que á em ti, digo, e que estava adormecido no sono letárgico desta vida, decidiu despertá-lo a oculta providência com as múltiplas e rudes provas que conheces. Desperta, desperta, peço-te! Crê que hás de congratular-te profundamente, porque quase não te afagaram os bens deste mundo que seduzem os incautos. Esses bens também tentavam perder-me a mim, que todos os dias repetia isso, se uma dor do peito não me tivesse obrigado a deixar a minha vã profissão e refugiar-me no seio da filosofia. Agora, no ócio que ardentemente desejávamos, ela me nutre e acalenta. Libertou-me totalmente daquela superstição na qual te precipitara juntamente comigo. É ela que me ensina, e ensina de verdade, que absolutamente nada do que se vê com os olhos mortais ou se alcança por qualquer outro sentido merece ser cultivado mas totalmente desprezado. É ela que promete mostrar em toda a claridade o Deus verdadeiro e secretíssimo e o já faz entrever como que através de nuvens transparentes.
(Postagem: Paulo Praxedes – Equipe do Blog Dominus Vobiscum / Veritatis / Suma Teológica / Ordem de Santo Agostinho / Patrística vol.24)
Veja Também:: Vida de São Agostinho |
Até o próximo post! E divulguem/compartilhem este estudo com seus amigos para que juntos possamos aprender com os doutores da nossa Igreja que é Una, Santa, Católica, Apostólica e Romana!
Pingback: Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro I [Gênese] « Dominus Vobiscum
Agostinho de Hipona deixa atodos os que o conhecem, encantados com sua lógica, sua persuação, sua limpidez de pensamento, sua coerencia. Estou iniciando a estudar Confições, livro que retrata toda sua humildade de seguidor de Cristo.
Pingback: Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro I [Primeira Discussão] « Dominus Vobiscum
Pingback: Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro I [Procura da Verdade e Perfeição do Homem] « Dominus Vobiscum
Pingback: Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro I [Primeira Definição do Erro] « Dominus Vobiscum
Pingback: Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro I [Segunda Discussão] « Dominus Vobiscum
Pingback: Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro I [Terceira Discussão] | Dominus Vobiscum
Pingback: Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro I [Conclusão] | Dominus Vobiscum
Pingback: Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro II [Segundo Prólogo a Romaniano] | Dominus Vobiscum
Pingback: Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro II [Segundo Prólogo a Romaniano P.II] | Dominus Vobiscum
Pingback: Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro II [Segundo Prólogo a Romaniano P.III] | Dominus Vobiscum
Pingback: Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro II [Síntese da Doutrina Acadêmica] | Dominus Vobiscum
Pingback: Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro II [Gênese da nova Academia e sua relação com a antiga] | Dominus Vobiscum
Pingback: Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro II [Verossimilhança e conhecimento do verdadeiro] | Dominus Vobiscum
Pingback: Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro II [Importância do problema da possibilidade de encontrar a verdade] | Dominus Vobiscum
Pingback: Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro II [Caráter substancial e não meramente verbal da controvérsia sobre o “verossímil”] | Dominus Vobiscum
Pingback: Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro II [O autêntico significado do conceito acadêmico de “verossímil”] | Dominus Vobiscum
Pingback: Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro II [Elucidação do problema a ser discutido] | Dominus Vobiscum
Pingback: Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro III [Necessidade da fortuna para tornar-se sábio] | Dominus Vobiscum
Pingback: Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro III [O sábio e o conhecimento da sabedoria] | Dominus Vobiscum
Pingback: Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro III [Irrazoabilidade da descrição acadêmica do sábio] | Dominus Vobiscum
Pingback: Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro III [Balanço da discussão e plano subsequente] | Dominus Vobiscum
Pingback: Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro III [Refutação do assentado primado dos Acadêmicos] | Dominus Vobiscum
Pingback: Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro III [As implicações da definição de Zenão] | Dominus Vobiscum
Pingback: Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro III [O problema da certeza em Filosofia] | Dominus Vobiscum
Pingback: Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro III [O problema do Assentimento] | Dominus Vobiscum
Pingback: Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro III [Crítica do conceito de “provável”] | Dominus Vobiscum
Pingback: Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro III [Os motivos históricos do ceticismo acadêmico] | Dominus Vobiscum