Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro II [Segundo Prólogo a Romaniano P.II]

Santo Agostinho de Hipona (4)Pax et Bonum! Amigos, que a Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos vocês!

Dando continuidade aos estudos do livro “Contra os Acadêmicos“, iremos hoje ler a segunda parte do Prólogo a Romaniano do livro II. Nesta leitura, São Agostinho, num tom filial, nos revela a importância de Romaniano em sua vida. Temos trechos que nos remete a época da adolescência de Agostinho no antes/depois da perda do seu pai, sua ida a Cartago para estudar, o seu ‘voar’ sozinho. Boa leitura a todos!

Papel de Romaniano no caminho de Agostinho em direção à filosofia

3 – Dedica-te, pois, comigo à filosofia. É ela que costuma mover-te admiravelmente quando muitas vezes estás inquieto e hesitante. Pois de ti não receio nem apatia moral nem falta de engenho. Quem era mais atento em nossas conversações, quando podias respirar um pouco? Quem mais penetrante? Não retribuirei os teus favores? Por acaso é pouco o que te devo? Quando, pobre adolescente, fui estudar em outra cidade, acolheste-me em tua casa, às tuas custas, e o que é mais, no teu coração. Quando perdi meu pai, consolaste-me com a tua amizade, animaste-me com teus conselhos, ajudaste-me com teus recursos. Em nosso próprio município, teus favores, tua amizade, a partilha do teu lar tornou-me quase tão ilustre e notável como tu. Quando quis retornar a Cartago em busca de uma situação melhor, ao revelar somente a ti e a nenhum dos meus o meu intento e a minha esperança, hesitaste um tanto por causa do teu inato amor à tua terra natal, onde eu já lecionava. Não pudeste vencer o desejo de um jovem que procurava uma situação que lhe parecia melhor. Então, com a maravilhosa moderação de tua benevolência, de dissuasor passaste a benfeitor. Providenciaste tudo o que me era necessário para a viagem. Tu, o que havias protegido sustentastes também meus primeiros esforços, quando quis começar a voar sozinho. Quando embarquei, durante tua ausência e sem avisar-te, não te magoaste por não tê-lo comunicado a ti, como costumava. Não me suspeitaste de orgulho, permaneceste firme na tua amizade e não valeram mais aos teus olhos os filhos abandonados pelo mestre que as intenções íntimas e a retidão do meu coração.

4 – Finalmente, se agora desfruto o meu repouso, se rompi as cadeias dos desejos vãos, se tendo descarregado o peso das preocupações já mortas, agora respiro, me reanimo e volto a mim mesmo, se ardentemente busco a verdade, que já começo a encontrar, se confio chegar a essa suma medida, devo-o a ti que me encorajaste, me impeliste e o tornaste realidade. Mas foi mais pela fé que pela razão que compreendi aquele de quem foste instrumento. Efetivamente, quando te expus frente a frente os temores da minha alma e repetidas vezes enfaticamente afirmei que para mim só era boa fortuna aquela que me permitisse lazer para filosofar, que não havia outra vida feliz senão a de viver na filosofia, mas que me retinha o pesado encargo dos meus familiares, cuja vida dependia da minha profissão e ainda por muitas outras necessidades, como também por certa vergonha de minha parte e pelo temor de lançar os meus na miséria, foste tomado de tanta alegria, inflamado de um ardor tão santo por esse modo de vida, que declaraste que se encontrasses um meio de te desvencilhares dos laços daqueles molestos processos, romperia todas as minhas cadeias, ainda que fosse com a partilha do teu patrimônio comigo.

5 – Assim, quando partiste, depois de aceso o fogo do nosso ideal, não cessamos mais de suspirar pela filosofia e só pensávamos no gênero de vida que nos seduziu e sobre o qual concordamos entre nós. Perseguíamos constantemente esta ideia, porém menos vivamente, Todavia, brotara aquela chama que deveria abrasar-nos ao máximo, julgávamos que a que nos aquecia já era a máxima possível. E eis que certos livros bem cheios, como diz Celsino, espalharam sobre nós os bons perfumes da Arábia e destilando sobre a pequena chama algumas poucas gotas de preciosíssimo unguento, provocaram um incêndio incrível, sim Romaniano, realmente incrível, além do que tu podes pensar, e acrescento, mais incrível do que eu mesmo podia suspeitar de mim. Já não me importavam as honras, as pompas humanas, o desejo de vanglória, enfim os incentivos e as amarras desta vida mortal. Rapidamente me concentrei todo em mim mesmo. Confesso que olhei apenas de relance para aquela religião que nos foi ensinada e inculcada até a medula na infância. No entanto era ela que, sem eu saber, me atraía a si. Assim, titubeante, avançando e hesitando, tomo o livro do apóstolo Paulo. Esses homens, dizia a mim mesmo, teriam podido realizar tão grandes coisas, teriam vivido como se sabe viveram, se seus escritos e seus argumentos fossem contrários a tão grande bem? Li-o então todo com a máxima atenção e piedade.

6 – Então, já banhado por uma fraca luz, manifestou-se-me tão radiante o semblante da filosofia, que, se eu pudesse mostrá-la não digo a ti, que sempre ardeste de sede desta desconhecida, mas ao teu adversário, de quem não sei se é para ti mais um estímulo que um obstáculo, este, rejeitaria e abandonaria seus banhos, seus deliciosos jardins, seus delicados e refinados banquetes, seus histriões, enfim tudo o que poderosamente o impele para toda sorte de prazeres e voaria para a sua beleza, cheio de admiração, ofegante e ardente como um amante carinhoso e puro. Pois é preciso admitir que também ele tem certa beleza, que no seu esforço por florescer com a verdadeira beleza brota tortuosa e disforme entre a sordidez dos vícios e os espinheiros das opiniões falazes, mas não cessa de produzir folhas e, enquanto possível, manifestar-se àqueles poucos cujo olhar penetrante e atento o distingue entre a folhagem. Daqui essa hospitalidade, daqui essa polidez que condimenta seus banquetes, daqui essa elegância, esse esplendor e aparência apuradíssima de todas as coisas e essa urbanidade que sobre tudo derrama sua graça velada.

(Postagem: Paulo Praxedes – Equipe do Blog Dominus Vobiscum – Referências: Veritatis  Suma Teológica  Ordem de Santo Agostinho  Patrística vol.24)

Veja Também:: Vida de São Agostinho | Livro I | Livro II – Segundo Prólogo a Romaniano P. I

Até o próximo post! E divulguem/compartilhem este estudo com seus amigos para que juntos possamos aprender com os doutores da nossa Igreja que é Una, Santa, Católica, Apostólica e Romana!

8 comentários sobre “Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro II [Segundo Prólogo a Romaniano P.II]

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