Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro II [Segundo Prólogo a Romaniano P.III]

Santo Agostinho de Hipona (4)Pax et Bonum! Amigos, que a Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos vocês!

Dando continuidade aos estudos do livro “Contra os Acadêmicos“, iremos hoje ler a segunda parte do Prólogo a Romaniano do livro II. Nesta leitura, São Agostinho, exorta a filosofia – inclusive é o tema deste parte – mas nos inclui uma nova definição/terminologia. Filocalia. Uma definição para este termo é o amor ao bem. Então deixo aqui, uma oração curta que nos imerge ao amor de Deus, por Jesus Cristo: Domine Iesu Christe, Fili Dei, miserere mei, peccatoris ( Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende piedade de mim, pecador ). Boa leitura!!!

Exortação à Filosofia

7 – Isso é o que vulgarmente se chama filocalia. Não desprezes o termo por causa do seu uso comum. Pois filocalia e filosofia são quase sinônimos e querem parecer termos da mesma família e de fato o são. Pois, o que é filosofia? O amor da sabedoria. Que é filocalia? O amor à beleza. Pergunta aos gregos. E o que é a sabedoria? Por acaso não é a verdadeira beleza? Portanto a filosofia e a filocalia são irmãs, filhas do mesmo pai. Mas a filocalia, arrancada do seu céu pelo engodo da volúpia e presa na gaiola do vulgar, conservou, todavia a semelhança do nome para advertir o passarinheiro a não desprezá-la. Sua irmã, que voa livremente, muitas vezes a reconhece, ainda que sem asas, suja e miserável, mas raramente a liberta, pois a filocalia não conhece sua origem, a filosofia sim. Licêncio poderá contar-te toda esta fábula – pois de repente virei Esopo – mais agradavelmente num poema. Ele é um poeta quase perfeito. Portanto, se teu adversário, amante da falsa beleza, pudesse com olhos curados e puros pudesse contemplar um pouco a verdadeira beleza, com que prazer se lançaria no seio da filosofia! E ao te encontrar ali, não te abraçaria como a um verdadeiro irmão? Admiras-te e talvez rias. O que aconteceria se eu ouvir a voz da filosofia, uma vez que ainda não podes ver-lhe a face? Certamente te admirarias, mas não haverias de rir e não te desesperarias. Acredita-me, não se deve desesperar de ninguém, menos ainda de homens como esse. Há muitos exemplos. Este gênero de pássaros some facilmente, mas também facilmente volta, para grande surpresa de muitos que permanecem presos.

8 – Mas voltemos a nós mesmos, Romaniano, para filosofar. Devo agradecer-te. Teu filho já começa a filosofar. Procuro refreá-lo para que antes se torne mais robusto e mais forte, aplicando-se às disciplinas necessárias, das quais, se bem te conheço, não deve temer ser alheio. Só te desejo um vento de liberdade. Pois o que direi das tuas disposições naturais? Oxalá não fossem tão raras entre os homens quanto são certas em ti! Restam dois vícios e escolhos que impedem encontrar a verdade, mas que não me preocupam em relação a ti. Todavia, receio que te menosprezes ou desesperes de encontrar a verdade ou que imagines tê-la encontrado. O primeiro escolho, se existe, talvez esta discussão te livrará dele. Pois muitas vezes te indignaste contra os Acadêmicos, e isso com tanto mais veemência quanto eras menos instruído nesse assunto, porém com tanto mais espontaneidade quanto mais eras inflamando de amor à verdade. Assim, com o teu apoio, discutirei com Alípio e facilmente te persuadirei do que pretendo, pelo menos com probabilidades, pois só descobrirás a verdade se te entregares totalmente à filosofia. Quanto ao segundo obstáculo, isto é, o de presumires talvez ter encontrado algo, ainda que já te separaste de nós procurando e duvidando, se voltou ao teu espírito alguma superstição, certamente será expulsa, quando eu te enviar alguma discussão nossa sobre a religião ou quando conversar contigo de viva voz sobre muitas coisas.

9 – Atualmente não faço outra coisa que purificar-me de opiniões vãs e perniciosas. Por isso não duvido de que o meu estado atual seja melhor que o teu. Só há um ponto em que invejo a tua sorte: é que só tu desfrutas da presença do meu Luciliano. Ou tens inveja de mim porque eu disse “meu”? Mas ao fazê-lo, o que é que eu disse senão que é teu e de todos nós que somos um. E o que deverei pedir-te para mitigar a minha saudade. Será que o mereço? Sabes, porque é teu dever.

Mas agora digo a ambos: evitai imaginar que sabeis alguma coisa a menos que saibais do mesmo modo como sabeis que a soma de um, dois, três e quatro é dez. Mas guardai-vos também de julgar que não podeis encontrar a verdade na filosofia ou que a verdade não pode ser conhecida desse modo. Acreditai-me, ou melhor, acreditai naquele que disse: Procurai e achareis. Não se deve desesperar de conhecer a verdade nem de chegar a um conhecimento mais evidente que o dos números. Mas voltemos à nossa questão. Já começou a temer um pouco tardiamente que esta introdução está excedendo a medida, o que não é um defeito leve, pois a medida é sem dúvida divina. Mas ela nos passa despercebida quando conduz suavemente. Serei mais cauteloso, quando for sábio.

(Postagem: Paulo Praxedes – Equipe do Blog Dominus Vobiscum – Referências: Veritatis  Suma Teológica  Ordem de Santo Agostinho  Patrística vol.24)

Veja Também:: Vida de São Agostinho | Livro I | Livro II – Segundo Prólogo a Romaniano P. I | Livro II – Segundo Prólogo a Romaniano P.II

Até o próximo post! E divulguem/compartilhem este estudo com seus amigos para que juntos possamos aprender com os doutores da nossa Igreja que é Una, Santa, Católica, Apostólica e Romana!

7 comentários sobre “Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro II [Segundo Prólogo a Romaniano P.III]

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