Pax et Bonum! Amigos, que a Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos vocês! Dando continuidade aos estudos do livro “Contra os Acadêmicos“, hoje iremos, dar continuidade ao tema “verossímil” em relação ao conceito Acadêmico.
Quinta Discussão – O autêntico significado do conceito acadêmico de “verossímil”
O dia seguinte não amanheceu menos agradável e sereno. Todavia, foi difícil desembaraçar-nos das ocupações domésticas, pois consumimos grande parte do dia escrevendo cartas. Quando já restavam apenas duas horas, fomos ao campo, pois convidava-nos a extrema limpidez do céu e não queríamos perder o pouco tempo que ainda tínhamos. Depois que chegamos à arvore costumeira e todos se tinham acomodado, comecei:
– Rapazes, como hoje não podemos tratar de uma grande questão, gostaria que me recordassem como ontem Alípio respondeu à perguntinha que vos perturbou.
Respondeu Licêncio: – A resposta foi tão curta, que não há problema em recordá-la. Mas cabe a ti julgar o seu peso. Parece-me que, sendo clara a questão, ele te impediu de levantar uma discussão de palavras.
– Percebestes bem, tornei eu, o sentido e o alcance dessa resposta?
Licêncio: – Creio ter entendido o que significa, mas peço-te que a expliques um pouco mais. Pois muitas vezes te ouvi dizer que numa discussão é vergonhoso deter-se em questões de palavras, quando já não há dúvida quando às coisas em si. Mas isso é demasiado sutil para que se me peça uma explicação a mim.
Ouvi, pois, continuei, de que se trata. Os Acadêmicos chamam provável ou verossímil agir sem assentimento. Quando digo sem assentimento, quero dizer de tal modo que sem ter por verdadeiro o que fazemos e julgando ignorar a verdade, não deixamos de agir. Por exemplo, se na noite passada, com o céu tão desanuviado e puro, alguém nos perguntasse se hoje nasceria um sol tão radioso, creio que teríamos respondido: não sabemos, mas parece que sim. Tal me parece ser, diz o Acadêmico, tudo o que julguei dever chamar provável ou verossímil. Se quiseres chama-lo com outro nome, não me oponho. Basta-me saber que entendeste bem o que digo, isto é, a que coisas dou estes nomes. “Pois o sábio não deve ser um artífice de palavras, mas um investigador da realidade”. Compreendestes como me foram arrancados das mãos os brinquedos com que vos exercitava?
Ambos responderam que sim, mas a expressão do rosto deles pedia uma resposta minha. Disse lhes então: – Por acaso pensais que Cícero, de quem são estas palavras, era tão ignorante da língua latina que desse nomes pouco adequados às coisas que tinha em mente?
Trigécio: – Agora que a questão real está clara, não queremos levantar nova discussão de palavras. Vê, antes, o que tens a responder àquele que nos libertou, em vez de tentar novamente atacar-nos.
Licêncio: – Um momento, por favor, pois me vem à mente uma luz pela qual vejo que não se deveria ter-te arrebatado um argumento tão forte.
Depois de refletir um momento em silêncio, continuou:
– Nada me parece mais absurdo que alguém dizer que segue o verossímil quando ignora a verdade. E neste ponto nem a tua comparação me perturba. Se me perguntarem se a presente condição do tempo não ameaça chuva para amanhã, respondo que não é verossímil, porque não nego que conheço alguma verdade. Pois sei que esta árvore não pode subitamente tornar-se uma árvore de prata e há muitas outras coisas que sem temeridade afirmo conhecer, às quais vejo serem semelhantes às que chamo verossímeis. Mas tu, Carnéades, ou outra peste grega, para não falar dos nossos – pois por que hesitarei em passar para o partido de quem sou prisioneiro por direito de vitória? – quando dizes não conhecer nenhuma verdade, donde saber que segues o verossímil? Efetivamente não posso dar-lhe outro nome. O que discutir com um homem que não pode sequer falar?
Tomou a palavra Alípio: – Não temo os desertores. E muito menos os teme Carnéades, contra quem, levado por uma leviandade, não sei se juvenil ou pueril, julgaste dever lançar maldições em vez de um argumento. Pois, para confirmar a sua opinião que sempre se apoiou somente no provável, lhe seria fácil e suficiente alegar contra ti que nos encontramos tão longe de encontrar a verdade, que tu mesmo podes ser uma prova decisiva disso, visto que de tal modo foste abalado por uma simples pergunta, que não sabias da certeza que há pouco afirmavas ter em relação à arvore, deixemo-lo para outra ocasião. Embora já tenhas escolhido outro partido, contudo deves instruir-te diligentemente sobre o que eu disse um pouco antes. Pois parece-me que ainda não penetramos no âmago da questão de saber se é possível encontrar a verdade. Mas achei que no umbral da minha defesa devia ser proposta a questão em relação à qual eu te vira abatido e prostrado. Isto é, se não se deve procurar o verossímil ou o provável – ou outro nome que se lhe queira dar – com que se dão por satisfeitos os Acadêmicos. Pois se tu já te consideras um perfeito conhecedor da verdade, pouco me importa. Se depois não fores ingrato ao meu patrocinador, talvez me ensinarás essas coisas.
Veja Também:: Vida de São Agostinho | Livro I | Livro II – Segundo Prólogo a Romaniano P. I |Livro II – Segundo Prólogo a Romaniano P.II | Livro II – Segundo Prólogo a Romaniano P.III | Livro II – Síntese da Doutrina Acadêmica | Livro II – Gênese da nova Academia e sua relação com a antiga | Livro II – Verossimilhança e conhecimento do verdadeiro | Livro II – Importância do problema da possibilidade de encontrar a verdade | Livro II – Caráter substancial e não meramente verbal da controvérsia sobre o “verossímil”
Até o próximo post! E divulguem/compartilhem este estudo com seus amigos para que juntos possamos aprender com os doutores da nossa Igreja que é Una, Santa, Católica, Apostólica e Romana!