Pax et Bonum! Amigos, que a Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos vocês!
Dando continuidade aos estudos do livro “Contra os Acadêmicos“, hoje iremos, continuar lendo o livro III. Como vimos na sessão anterior à sabedoria pode estar intrinsecamente relacionada ao quanto dispomos para investir à sua busca, contudo São Agostinho nos remete a inverter essa tese. Hoje Alípio e Agostinho travam uma discussão sob a luz do sábio e o filósofo. Vamos conferir o desfecho?
Boa Leitura!!!
O sábio e o conhecimento da sabedoria
– Gostaria que me explicasses um pouco qual a diferença que, a teu ver, existe entre o sábio e o filósofo.
Alípio: – A única diferença entre o sábio e o aspirante à sabedoria é que as coisas que o sábio possui como certo hábito, o aspirante à sabedoria só as tem em desejo.
Insisti: – Mas afinal em que consistem essas coisas? Pois a única diferença que me parece existir é que um conhece a sabedoria (scit sapientiam ), enquanto o outro deseja conhece-la ( scire desiderato )
Alípio: – Se desses uma breve definição da ciência, explicarias mais claramente a questão.
– Qualquer que seja a definição que eu der, respondi, todos concordam que não pode haver ciência de coisas falsas.
– Acreditei dever fazer-te esta objeção, temendo que, por um imprudente assentimento de minha parte, teu discurso galopasse sem obstáculo nos campos dessa questão fundamental.
– Francamente, retorqui, não me deixaste nenhum espaço para cavalgar. Pois, se não me engano, já chegamos ao termo que há tempo estou perseguindo. Pois, se a única diferença entre o aspirante à sabedoria e o sábio, como disseste com sutileza e verdade, é que o primeiro ama, enquanto o último possui a disciplina da sabedoria – razão pelo qual não hesitaste em dar-lhe o nome que lhe convém, isto é, certo hábito – e, por outro lado, ninguém pode possuir em seu ânimo uma disciplina ( disciplinam ) sem nada ter aprendido ( didicit ) e nada aprender quem nada sabe e, além disso, ninguém, pode conhecer o falso, segue-se que o sábio, o qual admitiste ter disciplina da sabedoria, isto é, o hábito da sabedoria, conhece a verdade.
Alípio: – Seria muita audácia minha querer negar que reconheci que o sábio possui o hábito da pesquisa das coisas divinas e humanas. Mas não vejo como poder sustentar que não há hábito das probabilidades encontradas.
– Concedes, retorqui, que ninguém sabe o falso?
– Sem dificuldade, respondeu.
– Atreve-te, pois, a dizer que o sábio ignora a sabedoria, continuei.
– Mas por que, disse Alípio, encerras tudo nestes limites, de modo que não possa “parecer” ao sábio que ele conhece a sabedoria?
Respondi: – Dá-me a mão direita. Pois, se ti recordas, foi isso que prometi ontem que demonstraria e agora me alegro que esta conclusão não seja minha, mas espontaneamente apresentada por ti. Com efeito, dizia eu que a diferença entre mim e os Acadêmicos era que a eles parecia provável que não se pode encontrar a verdade, enquanto a mim, se bem que ainda não encontrei, parece que pelo menos o sábio possa encontra-la. Agora, pressionado por minha pergunta se o sábio ignora a sabedoria respondeste que lhe parece que ele a conhece.
– E o que se segue daqui – inquiriu ele.
– É que, disse eu, se lhe parece que conhece a sabedoria, não lhe parece que o sábio pode saber nada. Ou então serás obrigado a dizer que a sabedoria não é nada.
Alípio: – Em verdade, eu acreditava que tínhamos chegado à conclusão, mas de repente, ao nos apertarmos as mãos, vejo que já uma grande oposição entre nós e que nos afastamos muito um do outro. Ontem, ao que parece, não havia entre nós outra questão senão que o sábio pode chegar à compreensão do verdadeiro segundo tua opinião, contrária à minha. Mas agora não me parece ter-te concedido mais que isso: que pode parecer ao sábio que conseguiu a sabedoria das coisas prováveis, sendo fora de dúvida para nós ambos que eu fiz consistir a sabedoria na busca das coisas divinas e humanas.
– Não é complicando que explicarás as coisas, respondi. Parece-me que estás disputando só para te exercitar. E como sabes muito bem que estes jovens dificilmente podem discernir as sutilezas da discussão, de certa forma estás abusando da ignorância dos teus juízes, e assim podes falar quanto quiseres sem que ninguém proteste. Pouco antes, quando eu te perguntei se o sábio conhece a sabedoria, disseste que lhe parecia, a ele sábio, que a conhecia. Portanto, a quem parece que o sábio conhece a sabedoria não lhe parece que o sábio não conhece nada. Só poderia afirmar isso que ousasse dizer que a sabedoria não é nada. Donde se segue que a tua opinião é a mesma que a minha, pois eu acho que o sábio sabe algo e creio que tu pensas assim, pois julgas que ao sábio parece que o sábio conhece a sabedoria.
Alípio: – Julgo não ter a intenção de exercitar mais meu engenho que tu, o que me surpreende, pois tu não tens nenhuma necessidade de exercitar-te nisso. A mim, talvez ainda cego, parece-me haver uma diferença entre crer que se sabe e saber, como entre a sabedoria que consiste na busca, e a verdade. Não vejo como concordar estas opiniões diferentes sustentadas por nós.
Como já nos chamastes para o almoço, disse eu: – Não me desagrada a tua resistência, pois ou ambos não sabemos o que estamos dizendo, e devemos esforçarmos para evitar tal vergonha, ou isso se aplica somente a um de nós, e não seria menos vergonhoso tolera-lo ou negligencia-lo. Mas a isso voltaremos depois do meio-dia. Quando me parecia que já tínhamos concluído, mostras-me os punhos!
Todos riram e retiramo-nos.
(Postagem: Paulo Praxedes – Equipe do Blog Dominus Vobiscum – Referências: Veritatis – Suma Teológica – Ordem de Santo Agostinho – Patrística vol.24)
Veja Também:: Vida de São Agostinho | Livro I | Livro II | Livro III – Necessidade da fortuna para tornar-se sábio
Até o próximo post! E divulguem/compartilhem este estudo com seus amigos para que juntos possamos aprender com os doutores da nossa Igreja que é Una, Santa, Católica, Apostólica e Romana!