Pax et Bonum! Amigos, que a Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos vocês! Dando continuidade aos estudos do livro “Contra os Acadêmicos“, hoje iremos, continuar lendo o livro III. Boa Leitura!
Refutação do assentado primado dos Acadêmicos
Ao perceber que era isso o que também eles esperavam, comecei como uma espécie de novo exórdio, dizendo:
– Cederei aos vossos desejos. Depois das grandes fadigas da escola de retórica, eu esperava poder descansar um pouco sob uma armadura leve, tratando este assunto mais sob forma de interrogações que de discurso. Todavia, como somos poucos e não preciso de forçar minha voz em detrimento da saúde e, de outra parte, por causa disso resolvi que o estilo seja uma espécie de condutor e moderador do meu discurso, para não me deixar levar a falar com mais entusiasmo do que permite o cuidado do meu estado físico, ouvi em discurso contínuo, como desejais, o que penso.
Primeiramente, vejamos o que dá aos seguidores dos Acadêmicos motivo para tanto gloriar-se. Há, efetivamente, nas obras que Cícero escreveu em defesa deles, uma passagem que a meu ver, é de admirável elegância e, segundo outros, também de rara solidez. É difícil não impressionar-se com o que diz: “Os seguidores de todas as outras seitas que julgam ser sábios concedem o segundo lugar ao sábio Acadêmico, pois cada um deles reserva necessariamente para si o primeiro. Daqui se pode concluir com probabilidade que com direito se julga primeiro aquele que é o segundo no juízo de todos os outros.
Suponhamos, por exemplo, aqui presente um sábio estóico, pois foi principalmente contra eles que se exerceu a engenhosidade dos Acadêmicos. Se perguntarmos a Zenão ou a Crisipo quem é sábio, responderá que é aquele que ele próprio descreveu. De seu lado, Epicuro, ou algum outro adversário negará tal afirmação e sustentará que para ele sábio é o mais hábil caçador de prazeres. Começa a discussão. Clama Zenão e todo o Pórtico, em alvoroço, grita que o homem não nasceu senão para a virtude, que esta atrai a si as almas com o seu esplendor, sem oferecer absolutamente nenhuma vantagem exterior, sem nenhum atrativo de recompensa, que o prazer de Epicuro é próprio somente dos animais e que é ímpio lançar o homem e o sábio à companhia destes. Epicuro, por sua vez, qual outro Liber de seus jardins, convoca em seu auxílio a turba dos discípulos embriagados, mas que, no seu furor de bacantes, procuram a quem dilacerar com suas unhas sujas e seus dentes ásperos. Com o testemunho da turba, acumula as palavras prazer, suavidades e repouso, insistindo enfaticamente que ninguém pode ser feliz sem o prazer. Se no meio da disputa se apresentar um Acadêmico, ouvirá as duas partes, cada qual tentando atraí-lo para o seu lado. Se se inclinar para um dos partidos, será chamado de insensato, ignorante e temerário pelos sequazes do partido contrario. Assim, depois de ter ouvido os dois partidos, interrogado sobre o que pensa, dirá que está em dúvida. Pergunta agora ao estóico quem é melhor, se Epicuro, o qual diz que o estóico delira, ou o Acadêmico, que declara que ainda precisa refletir sobre a questão tão grave. Ninguém duvida que o preferido será o Acadêmico. Dirige-te então a Epicuro e pergunta-lhe quem prefere, Zenão, por quem é chamado animal, ou Arcesilau, que lhe diz: talvez tens razão, mas preciso examinar isso melhor. Não é evidente que Epicuro julgará que todo o Pórtico é louco e que em comparação com este os Acadêmicos são homens modestos e cautelosos?”. Assim Cícero, com grande eloquência faz desfilar diante de seus leitores, como que num agradabilíssimo espetáculo, quase todas as seitas, mostrando que se nenhum representante delas deixa de atribuir-se o primeiro lugar, o que é inevitável, todos concordam em dar o segundo a quem não lhes é contrário, mas duvida. Não me oporei a eles neste ponto, nem pretendo diminuir-lhes a glória.
Alguns, é certo, acham que aqui Cícero não quis brincar, mas, por detestar a frivolidade dos gregos, colher e reunir alguns argumentos vãos e ocos. Mas o que me impede a mim, se quiser resistir a esta impostura acadêmica, mostrar, o que farei facilmente, que é um mal menor se ignorante (indoctum) que ser incapaz de instruir-se (indocilem)? Assim, quando esse presunçoso Acadêmico se apresenta como discípulo a cada um dos filósofos e ninguém consegue convencê-lo do que crê saber, todos acabam concordando em rir-se dele. Cada qual pensará que, se nenhum dos seus adversários aprendeu alguma coisa, o Acadêmico, este é incapaz de aprender. Consequentemente, será expulso de todas as escolas, não a golpes de férula, o que seria mais vergonhoso que modesto, mas com as clavas e bastões daqueles homens vestidos de manto. Na verdade não será grande trabalho reclamar contra um flagelo comum o socorro, por assim dizer, hercúleo, dos Cínicos.
Mas se eu quiser disputar com os Acadêmicos uma glória tão miserável, o que mais facilmente se concederá ao filosofante que sou, ainda não sábio, o que poderão alegar? Suponhamos que eu e um Acadêmico entremos numa dessas disputas dos filósofos, que todos estejam presentes e todos exponham brevemente sua doutrina, segundo convém. Pergunta-se a Carnéades o que pensa. Dirá que duvida. E cada qual o preferirá aos demais. Portanto, todos o preferirão a todos. Uma grande e altíssima glória! Quem não quererá imitá-lo? E se me perguntarem responderei a mesma coisa. O louvor será igual. Logo o sábio goza de uma glória pela qual o estulto se torna seu igual. E que dizer se o último até facilmente o superar? Nada fará a vergonha? Deterei o Acadêmico no momento em que estiver para deixar o tribunal, pois afinal a estultícia é ávida desse tipo de vitória. Retendo-o, mostrarei aos juízes o que ignoram e direi: “Excelentíssimos senhores, tenho em comum com este homem a dúvida sobre quem de nós segue a verdade. Mas também temos opiniões pessoais e peço-vos que as julgueis. Ainda que vos tenha ouvido, ignoro onde está a verdade, mas isso vem do fato de eu não saber quem de vós é sábio. Este, porém, nega que o próprio sábio conhece alguma coisa ao certo, nem mesmo a sabedoria, donde o sábio deriva o seu nome. Quem não vê a quem caberá a palma? Se meu adversário disser isso, vencerei em glória; se, envergonhado, confessar que o sábio conhece a sabedoria, terei vencido pela minha opinião.
(Postagem: Paulo Praxedes – Equipe do Blog Dominus Vobiscum – Referências: Veritatis – Suma Teológica – Ordem de Santo Agostinho – Patrística vol.24)
Veja Também:: Vida de São Agostinho | Livro I | Livro II | Livro III – Necessidade da fortuna para tornar-se sábio | Livro III – O sábio e o conhecimento da sabedoria | Livro III – Irrazoabilidade da descrição acadêmica do sábio | Livro III – Balanço da discussão e plano subsequente
Até o próximo post! E divulguem/compartilhem este estudo com seus amigos para que juntos possamos aprender com os doutores da nossa Igreja que é Una, Santa, Católica, Apostólica e Romana!