Estudo sobre a Igreja Católica Apostólica Romana:: Divina e Humana, santa e santificadora

Igreja Católica

A cada dia que passa, mais eu tenho a certeza que a Igreja Católica Apostólica Romana é o maior presente que Jesus Cristo deixou para a humanidade. Quando penso na complexidade dela, mais eu me encanto. Sua riqueza é incalculável! Não sei se podemos medir o valor da Igreja Católica, mas basta saber que é o próprio Jesus que a sustenta. Ele a criou e ele se compromete em sustentá-la.

O Catecismo da Igreja Católica nos diz que:

“O Mediador único, Cristo, constituiu e incessantemente sustenta aqui na terra sua santa Igreja, comunidade de fé, esperança e caridade, como um ‘todo’ visível pelo qual difunde a verdade e a graça a todos.” A Igreja é ao mesmo tempo:

– Sociedade provida de órgãos hierárquicos e Corpo Místico de Cristo;
– Assembléia visível e comunidade espiritual;
– Igreja terrestre e Igreja enriquecida de bens celestes.

Essas dimensões constituem “uma só realidade complexa em que se funde o elemento divino e humano”: Caracteriza-se a Igreja por ser humana e ao mesmo tempo divina, visível, mas ornada de dons invisíveis, operosa na ação e devotada à contemplação presente no mundo e, no entanto, peregrina. E isso de modo que nela o humano se ordene divino e a ele se subordine, o visível ao invisível, a ação à contemplação e o presente à cidade futura, que buscamos. (CIC§771)

É preciso entender que estas três dimensões da Igreja são independentes e ao mesmo tempo interligadas. A Igreja em sua complexidade é santa e ao mesmo tempo santificadora. É humana e divina ao mesmo tempo, pois se constitui de santos e pecadores. Não conheço nenhuma instituição no mundo que possua em seu corpo tal complexidade. Nela se fundem o mundo visível e o mundo espiritual, e é justamente por isso que encontramos nela um modelo tão incrível a ponto de caminhar nela.

Quem caminha apenas no mundo visível, vê apenas as falhas, os erros que como já disse anteriormente não são da Igreja, mas dos filhos da igreja. Quem caminha apenas no invisível se perde no ufanismo de seus pensamentos, pois o visível norteia o invisível. A Igreja se confunde em uma só frase: “Pés no chão e coração ao alto!”.

Como dizia São Bernardo:

Ó humildade! Ó sublimidade! Tabernáculo de Cedar e santuário de Deus; morada terrestre e palácio celeste; casa de barro e sala régia; corpo de morte e templo de luz; finalmente, desprezo para os soberbos e esposa de Cristo! És negra, mas formosa, ó filha de Jerusalém: ainda que desfigurada pelo labor e pelado longo exílio, a beleza celeste te adorna. (São Bernardo)

Fazer parte da verdadeira e única Igreja de Cristo é fazer parte de um mistério lindo e transformador! Deus abençoe a você que é Igreja e que ama a Igreja Católica Apostólica Romana!

Veja Também:: Estudo sobre a Igreja Católica Apostólica Romana:: Introdução | Estudo sobre a Igreja Católica Apostólica Romana:: O que é a Igreja? | Estudo sobre a Igreja Católica Apostólica Romana:: Os símbolos da Igreja | Estudo sobre a Igreja Católica Apostólica Romana:: Nascida do coração do Pai | Estudo sobre a Igreja Católica Apostólica Romana:: O sonho de Deus para nós! | Estudo sobre a Igreja Católica Apostólica Romana:: O Antigo Testamento e a Igreja Católica | Estudo sobre a Igreja Católica Apostólica Romana:: O legado de Cristo para o mundo! | Estudo sobre a Igreja Católica Apostólica Romana:: Quem estruturou a Igreja? Jesus, o papa, ou os homens? | Estudo sobre a Igreja Católica Apostólica Romana:: Humana e Divina, Visível e Invisível. | Estudo sobre a Igreja Católica Apostólica Romana:: Por que dizemos que a Igreja é santa?

Livro Maria Sempre Virgem e SantaVeja também o novo livro do Cadu (Administrador do Blog Dominus Dominus Vobiscum): Maria Sempre Virgem e Santa. Nele você vai encontrar ensinamentos seguros da doutrina da Igreja a respeito da Santíssima Virgem Maria, além das orações mais tradicionais da nossa Igreja à Virgem Mãe de Deus. Vendas apenas pela internet nos sites Clube de Autores e Agbook. Um livro para quem deseja ser mais íntimo de Nossa Senhora.

Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro III [O problema do Assentimento]

Santo Agostinho de Hipona (4)Pax et Bonum!

Amigos, que a Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos vocês! Dando continuidade aos estudos do livro “Contra os Acadêmicos“, hoje iremos, continuar lendo o livro III.

O problema do assentimento

Voltemos, pois, àquela parte onde Alípio parece ainda ter dúvidas. E em primeiro lugar vejamos o que te perturba de maneira tão aguda e te inspira tanta cautela. Pois se a tua descoberta que nos obriga a confessar que é muito mais provável que o sábio conhece a sabedoria, abala a opinião dos Acadêmicos, fortalecida por tantos e tão fortes razões (tu mesmo disseste isto), de que o sábio nada sabe, devemos suspender ainda mais o assentimento. Pois exatamente isso mostra que não há nenhuma proposição, por mais numerosos e sutis que sejam os argumentos aduzidos, a que não se possa resistir com argumentos não menos fortes ou até mais fortes da parte contrária. Daqui resulta que, quando é vencido, o Acadêmico é vencedor. Oxalá seja vencido! Nenhum artifício dos gregos fará com que ele se aparte de mim ao mesmo tempo vencido e vencedor. Certamente, se não houver outra coisa a dizer contra esses raciocínios, espontaneamente me darei por vencido. Pois aqui não tratamos de buscar a glória, senão de encontrar a verdade. A mim me basta transpor de qualquer modo este obstáculo que se opõe aos que querem ingressar na filosofia, retendo-os em não sei que tenebrosos esconderijos; ameaça fazer crer que toda filosofia é tal e não permite esperar que nela se possa encontrar a luz. Se é provável que o sábio sabe alguma coisa, nada mais tenho a desejar. Pois nenhuma razão me fazia julgar verossímil que o sábio devia suspender o seu assentimento, senão a de que era verossímil que nada se pode conhecer. Eliminada esta dificuldade, pois como se concede, conhece pelo menos a sabedoria, já não resta nenhuma razão para o sábio não dar o seu assentimento pelo menos à sabedoria. Com efeito é sem dúvida mais absurdo para o sábio não aprovar a sabedoria que não conhecê-la.

Imaginemos, por um instante, se podemos, o seguinte espetáculo:  uma disputa entre o sábio e a sabedoria. O que diz a sabedoria senão que ela é a sabedoria? Mas o sábio diz: não creio. Quem diz à sabedoria: não creio na existência da sabedoria? Quem, senão aquele com o qual ela pode falar e em quem se dignou habitar, isto é, o sábio? Vinde, portanto, pedir-me que lute com os Acadêmicos. Já tendes um novo gênero de luta: o sábio e a sabedoria disputam entre si. O sábio não quer dar assentimento à sabedoria. Convosco espero tranquilamente o resultado. Pois quem não acredita que a sabedoria é invencível? Todavia, vamos munir-nos de algum dilema. Neste certame, ou o Acadêmico vencerá a sabedoria e será vencido por mim, pois não será sábio, ou será vencido por mim, pois não será sábio, ou será derrotado por ela e afirmaremos que o sábio dá seu assentimento à sabedoria. Portanto, ou o Acadêmico não é sábio, ou o sábio dará seu assentimento a alguma coisa. A menos que quem teve vergonha de dizer que o sábio ignora a sabedoria não tenha vergonha de dizer que o sábio não dá assentimento à sabedoria. Mas, se já é verossímil que pelo menos o conhecimento da sabedoria compete ao sábio, e ele não tem nenhuma razão de não dar seu assentimento ao que se pode perceber, concluo que o que eu queria é verossímil, ou seja, que o sábio dará seu assentimento à sabedoria. Se perguntares onde ele encontra a sabedoria, responderei: em si mesmo. Se disseres que o sábio não sabe o que possui, voltas ao absurdo de que o sábio não conhece a sabedoria. Se negares que é possível encontrar um sábio, já não é com os Acadêmicos, mas contigo, quem quer que pensas assim, que será necessário instituir outra discussão. Pois os Acadêmicos, quando discutem essas questões, é evidentemente do sábio que tratam. Cícero declara que ele mesmo tem muitas opiniões, mas que sua busca se refere ao sábio. Se ainda não o sabeis, caros jovens, certamente lestes no Hortênsio: “Se nada há de certo e não convém ao sábio opinar sobre nada, o sábio nunca aprovará nada”. É, portanto, evidente que é do sábio que os Acadêmicos tratam nas suas discussões, contra as quais dirigimos nossos esforços.

Julgo, portanto, que o sábio tem certeza da sabedoria, isto é, que o sábio conhece a sabedoria e que por isso ele não opina quando dá seu assentimento à sabedoria. Pois ele dá seu assentimento a uma coisa tal que se não a conhecesse com certeza, não seria sábio. Os próprios Acadêmicos negam que se deva recusar o assentimento senão a coisas que não se podem perceber. Ora a sabedoria não é algo que não é nada. Portanto, ao conhecer a sabedoria e dar-lhe se assentimento, não se pode dizer que ele não conhece nada nem que ele dá seu assentimento a nada. O que mais quereis? Ou falaremos daquele erro que, segundo eles, se evita completamente quando o assentimento não faz pender o espírito para nenhum lado. Erra, com efeito, dizem eles, quem aprova não só uma coisa falsa, mas também uma coisa dúbia, ainda que esta seja verdadeira. Ora não há nada que não seja duvidoso. Mas o sábio, como dizíamos, encontrar a sabedoria.

(Postagem: Paulo Praxedes – Equipe do Blog Dominus Vobiscum – Referências: Veritatis  Suma Teológica  Ordem de Santo Agostinho  Patrística vol.24)

Veja Também:: Vida de São Agostinho | Livro I | Livro II | Livro III – Necessidade da fortuna para tornar-se sábio | Livro III – O sábio e o conhecimento da sabedoria | Livro III – Irrazoabilidade da descrição acadêmica do sábio | Livro III – Balanço da discussão e plano subsequente | Livro III – Refutação do assentado primado dos Acadêmicos | Livro III – O problema da certeza em Filosofia

Até o próximo post! E divulguem/compartilhem este estudo com seus amigos para que juntos possamos aprender com os doutores da nossa Igreja que é Una, Santa, Católica, Apostólica e Romana!

Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro III [O problema da certeza em Filosofia]

Santo Agostinho de Hipona (4)Pax et Bonum! Amigos, que a Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos vocês! Dando continuidade aos estudos do livro “Contra os Acadêmicos“, hoje iremos, continuar lendo o livro III.

O problema da certeza em filosofia

O que acabamos de dizer, salvo engano, é suficiente para a vitória, mas talvez não o seja para uma vitória completa. Os acadêmicos sustentam duas coisas, contra as quais decidimos lutar. Nada se pode conhecer e não se deve dar assentimento a nada. Do assentimento trataremos adiante. Agora falemos um pouco mais sobre o conhecimento. Dizeis que não se pode conhecer absolutamente nada? Aqui desperta Carnéades, afinal ninguém de todos ele dormiu  menos profundamente que ele, e observa a evidência das coisas. Imagino que fale assim consigo mesmo, como sói acontecer. “Então, Carnéades, dirás que não sabes se és homem ou formiga? Ou Crisipo triunfará sobre ti? Digamos que ignoremos o que se indaga entre os filósofos. O resto não nos diz respeito. Se eu tropeçar na luz cotidiana e ordinária, apelarei para as trevas dos ignorantes, onde só veem certos olhos divinos, os quais ainda que uma vejam vacilando e caindo, não podem entregar-me à zombaria dos cegos, sobretudo dos arrogantes e dos que têm vergonha de ser ensinados.

Na verdade avanças, ó habilidade grega, elegantemente vestida e bem preparada. Mas não reparas que aquela definição é obra de um filósofo, fixada e estabelecida no próprio vestíbulo da filosofia. Se tentares cortá-la, o machado de dois gumes recairá em tuas pernas. Porque, uma vez que a abalaste se não ousares destruí-la completamente, segue-se que não só se pode perceber algo, mas que também se pode perceber o que é muito semelhante ao falso.

É na verdade o teu esconderijo, donde saltas e atacas veementemente os incautos que querem passar adiante. Mas virá algum Hércules que te sufocará na tua caverna como ao semi-homem, esmagando-te sob as suas ruínas e ensinando-te que há em filosofia algo que não pode ser reduzido à incerteza por ser semelhante ao falso.

Na verdade eu me apressava em busca de outras coisas. Quem nisso insiste, Carnéades, afronta-te, tomando –te por morto que pode ser por mim vencido em qualquer lugar e de qualquer maneira. Se não pensa assim, é cruel obrigando-me a deixar a fortaleza e lutar contigo em campo raso. Quando comecei a descer a campo, aterrado só pelo teu nome, arredei o pé e de um lugar mais alto lancei alguma cosia. Vejam os que presenciam nossa luta se te atingiu ou que outro efeito produziu. Mas por que temo, inepto? Se bem me lembro, estás morto e nem Alípio tem o direito de lutar pela sua sepultura. Deus me ajudará facilmente contra tua sombra.

Afirmas que nada se pode saber ao certo em filosofia. E para difundir amplamente o teu discurso apelas para as rixas e dissensões entre os filósofos, acreditando que te fornecem armas contra eles.

Como julgaremos a contenda entre Demócrito e os físicos antigos sobre se o mundo é uno ou se há muitos mundos, quando não houve acordo entre ele e seu herdeiro Epicuro? Pois este voluptuoso, ao permitir que os átomos como seus servos, isto é, os corpúsculos, que alegremente abraça as trevas, não sigam o seu caminho, e se desviem espontaneamente para além de limites, dissipou todo o patrimônio em contendas. Mas nada disso me interessa. Pois se é próprio da sabedoria saber algo dessas coisas, este conhecimento não pode faltar ao sábio. Se é outra coisa, o sábio conhece a sabedoria e despreza estas. Eu, todavia, que ainda estou longe até da proximidade do sábio, sei alguma coisa dessas questões físicas. Efetivamente tenho por certo que o mundo é uno ou não é uno. Se não é uno, é de número finito ou infinito. Venha Carnéades dizer que esta proposição é semelhante a uma proposição falsa! Sei igualmente que este nosso mundo está assim disposto ou pela natureza dos corpos ou por alguma providência, e que nunca terminará, ou não tendo começado, terá um fim, ou que começou a existir e não permanecerá para sempre. Tenho ainda inúmeros outros conhecimentos físicos deste gênero referentes ao mundo. Estas proposições disjuntas são verdadeiras e ninguém pode confundi-las com alguma semelhança com o falso.

– Mas toma isoladamente uma delas, diz o Acadêmico.

– Não aceito, pois o teu pedido equivale a dizer: deixa o que sabes e afirma o que ignoras.

– Então a tua opinião está em suspenso.

– É melhor que esteja em suspenso do que caia, porque está completa e pode chamar-se falsa ou verdadeira. Digo que sei estas proposições. Tu que não negas que elas pertencem à filosofia e afirmas que nada delas se pode saber, mostra-me que não as sei. Dize que estas proposições disjuntivas são falsas ou têm algo em comum com o falso ou têm algo em comum com o falso, que torna absolutamente impossível discerni-las.

Se os sentidos enganam, diz o Acadêmico, como sabes que este mundo existe?

Nunca os vossos raciocínios puderam enfraquecer a força do testemunho dos sentidos a ponto de convencer-nos que nada nos aparece e jamais ousastes tentar fazê-lo. Mas empenhastes-vos em persuadi-nos que uma coisa pode ser diferente do que parece. Eu, porém, chamo mundo a tudo isso, digo, que aparece a meus olhos e é por mim percebido como comportando terra e o céu, ou o que parece terra e céu. Se disseres que o que me aparece não é nada, nunca poderei errar. Pois erra quem temerariamente aprova o que lhe parece aos sentidos como verdadeiro, mas não negais o fato de parecer. Não restaria absolutamente nenhuma razão para toda essa discussão em que vos aprazeis em triunfar, se não só nada sabemos como também nada nos aparece. Mas se negas que o que me parece é o mundo, trata-se de uma questão de palavras, pois eu disse que chamo mundo o que me parece.

Perguntarás: também quando dormes o mundo é este que vês? Já disse que chamo mundo o que me aparece, seja o que for. Mas, se quiseres chamar mundo só o que é visto pelos que estão acordados ou pelos sãos de espírito, afirma, se podes, que os que dormem ou deliram não dormem ou deliram no mundo! Portanto, digo que toda esta massa de corpos e esta máquina na qual nos encontramos, seja dormindo ou delirando, despertos ou sãos de espírito, é uma ou não é uma. Explica como pode ser falsa esta proposição. Da mesma forma, se durmo é possível que eu não tenha dito nada, ou que, se no sono me escaparam palavras da boca, como sói acontecer, pode ser que não as tenha dito aqui, sentado como estou, nem  diante destes ouvintes. Mas é impossível que isso falso [isto é, que falei ou não falei durante o sono]. E não digo que percebi isso por estar desperto, pois poderias objetar que isso poderia parecer-me também no sono e consequentemente pode ser muito semelhante ao falso. Mas se há um mundo e seis mundos, é evidente que há sete mundos, qualquer se seja o meu estado, e eu afirmo sem temeridade saber isso. Demonstra-me que o sono ou a loucura ou as ilusões dos sentidos podem tornar falsa esta conclusão ou as suposições  disjuntivas. Então, se, depois de desperto me lembrar delas, me darei por vencido. Pois creio que já é suficientemente claro que as falsas aparências produzidas pelo sono ou pela demência pertencem ao domínio dos sentidos corporais. Mas que três vezes três é nove ou o quadrado destes números é necessariamente verdadeiro, mesmo que ronque todo o gênero humano. Entretanto, também vejo que se podem dizer em favor dos sentidos muitas coisas que, quanto sabemos, não foram censuradas pelos próprios Acadêmicos. Creio que não se deve acusar os sentidos nem das imaginações falsas experimentadas pelos dementes, nem das coisas falsas que vemos nos sonhos. Pois se informam coisas verdadeiras aos desperto e aos sãos de espírito, não se pode pedir-lhes conta do que forja o ânimo de quem dorme ou está demente.

Resta averiguar se o que os sentidos informam é verdadeiro. Suponhamos que diga algum Epicurista:

Não tenho do que me queixar contra os sentidos, pois é injusto exigir deles mais do que podem dar. O que os olhos podem ver, se o veem, é verdadeiro.

– Logo é verdade o que veem do remo imerso na água?

– Absolutamente verdadeiro, pois havendo uma nova causa pela qual as coisas aparecem como se vê, se o remo imerso na água aparecesse reto, eu acusaria meus olhos de testemunho falso: de fato não veriam o que deveriam ver, havendo tais causas. Para que multiplicar os exemplos? A mesma coisa se pode dizer do movimento das torres, das asas das aves, de inúmeros outros casos.

Todavia, engano-me se der meu assentimento, dirá alguém:

Não dês um assentimento que vá além do que dita a tua persuasão de quem assim aparece, e não haverá engano. Pois não vejo como o Acadêmico possa refutar alguém que diz: sei que isso me parece branco, sei que isso deleita meus ouvidos, sei que aquilo é frio para mim.

– Mas, dize-me antes se são amargas em si mesmas as folhas do oleastro que tanto apetecem à cabra!

– Ó homem petulante! Não é mais modesta a cabra? Não sei o que as folhas são para o animal. Para mim são amargas. O que mais queres?

– Mas talvez também há algum homem para quem não são amargas.

– Queres cansar-me? Por acaso eu disse que são amargas para todos? Disse que são amargas para mim, e não afirmo que isso é sempre assim. Não acontece que por uma causa ou outra, a mesma coisa uma vez tem gosto doce, outra vez amargo? Afirmo o seguinte: quando um homem saboreia alguma coisa, pode jurar de boa fé que sabe que tal coisa é suave ou não ao seu paladar e não há sofisma grego que possa retirar-lhe esse conhecimento. Quem teria o descaramento de dizer-me, quando estou saboreando alguma iguaria: talvez não estás saboreando, mas é apenas um sonho? Por acaso estou dizendo contrário? Pois mesmo em sonho isso me deleitaria.

Assim nenhuma semelhança com o falso pode anular o fato que declarei conhecer. Os Epicuristas e os Cirenaicos talvez digam a favor dos sentidos muitas outras coisas que não me consta terem sido rebatidas pelos Acadêmicos. Mas o que me importa? Se quiserem e puderem, que os Acadêmicos refutem esses argumentos, até com a minha ajuda. Pois o que alegam contra os sentidos não vale contra todos os filósofos. Há os que julgam que todas as impressões que a alma recebe pelos sentidos podem produzir opinião, mas não a ciência a qual querem que seja contida na inteligência e vive na mente, longe dos sentidos. Talvez entre eles se encontre o sábio que procuramos. Mas este tema será tratado em outra ocasião. Passemos agora aos outros pontos, de que, à luz do que já foi dito, salvo engano, trataremos em poucas palavras.

Em que os sentidos são uma ajuda ou um obstáculo para quem trata de moral? Se nem o pescoço da pomba, nem a voz incerta, nem um fardo que é pesado para o homem e ao mesmo tempo leve para os camelos e mil outras coisas do gênero impedem aqueles que colocaram o sumo bem do homem no prazer de dizer que se sabem deliciados por aquilo que os delicia ou molestados por aquilo que os molesta – e não vejo como se poderia refutá-los neste ponto. Será então que tais argumentos impressionarão aquele que encerra na mente o bem do homem? O que escolhes? Se me perguntas o que acho, julgo que é na mente que reside o sumo bem do homem. Mas agora a nossa indagação diz respeito ao conhecimento. Interroga, portanto, o sábio, que não pode ignorar a sabedoria. Entretanto, é-me lícito, a mim por mais limitado e ignorante que seja, saber que o fim do bem humano, em que consiste a felicidade, ou não existe, ou existe e neste caso ou na alma, ou no corpo, ou em ambos. Convence-me, se fores capaz, de que não sei isso. Vossos famosos argumentos não o conseguem. Se não o podes, pois não encontrarás falsidade à qual se assemelhe, hesitaria eu em concluir que é com razão que o sábio me parece saber tudo o que há de verdadeiro na filosofia, uma vez que eu mesmo dela hauri tantos conhecimentos verdadeiros?

Mas talvez o sábio receie escolher o sumo bem dormindo. Não há nenhum perigo. Quando acordar, se não lhe agradar, o rejeitará, se lhe agradar, o aceitará. Pois quem terá o direito de repreendê-lo por te visto em sonho algo de falso? Talvez tema perder a sabedoria enquanto dorme, se tomar o falso por verdadeiro? Mas nem quem está dormindo ousará sonhar que deve chamar sábio um homem acordado e negar-lhe este título quando dorme. O mesmo se pode dizer da demência. Mas urge passar a outras considerações. Entretanto não deixarei esta questão sem uma conclusão certíssima: ou a sabedoria se perde pela demência e aquele de quem dizeis que ignora a verdade não será mais sábio, ou seu conhecimento permanece na inteligência, ainda que outra parte da alma se represente como em sonho o que recebeu pelos sentidos.

Resta à dialética, que o sábio certamente conhece bem. Ora, ninguém pode saber o falso [portanto a dialética é verdadeira]. Se o sábio não a conhece, o conhecimento da dialética não pertence à sabedoria, pois pôde sem ela tornar-se sábio. Neste caso será supérfluo indagar se é verdadeira e se pode ser conhecida. Aqui talvez alguém me diga: Estulto, costumas ostentar o que sabes. Não conseguiste aprender nada de dialética? Ao contrário, muito mais que de qualquer outra parte da filosofia. Em primeiro lugar, a dialética me ensinou que são verdadeiras todas as proposições acima. Além disso, através dela aprendi muitas outras verdades. Enumerai-as, se fordes capazes: se há quatro elementos no mundo, não são cinco, se há um sol, não há dois, uma mesma alma não pode ao mesmo morrer e ser imortal, um homem não pode ser ao mesmo tempo feliz e infeliz; aqui não é ao mesmo tempo dia e noite. No mesmo momento ou estamos acordados ou dormindo; o que creio ver ou é um corpo ou não é um corpo. Estas e outras coisas, que seria demasiadamente longo lembrar, foi pela dialética que aprendi serem verdadeiras, qualquer que seja o estado dos nossos sentidos, verdadeiras em si mesmas. Ela me ensinou que, se for admitida a antecedente nas proposições que citei, segue-os necessariamente a consequente. Quanto às que enunciei em forma de oposição ou disjunção, elas são de tal natureza que, quando se nega uma ou várias delas, a que resta é estabelecida pela negação das outras. Ensinou-me ainda que, quando há acordo sobre algo em questão, não se de discutir sobreas palavras e se o que o faz é por ignorância, que o faz, deve-se instruí-lo; se por maldade deve-se abandoná-lo; se for incapaz de ser instruído, deve-se adverti-lo que faça qualquer outra coisa em vez de perder tempo e trabalho em coisas supérfluas; se não obedecer, deixa-lo de lado. Quanto aos raciocínios capciosos e falaciosos, há uma regra breve: se forem baseados numa concessão imprudente, deve-se voltar a examinar o que foi concedido. Se o verdadeiro e o falso conflitam numa mesma conclusão, deve-se tomar o que se pode compreender e deixar o que não se pode explicar. Se, ao contrário, em algumas questões escapa inteiramente ao homem o “modo (modus)”, deve-se renunciar ao seu conhecimento. Todas estas e outras coisas, que é desnecessário lembrar devo-as à dialética, pois não deve ser ingrato a ela. Mas o sábio de que falamos ou despreza essas coisas, ou, se a dialética é realmente a ciência da verdade, conhece-a o suficiente para desprezar e acabar sem piedade com esta mentirosa calúnia: se é verdadeiro, é falso, se é falso é verdadeiro. Julgo que isso é suficiente sobre o conhecimento, pois quando tratar do assentimento, retornarei a questão.

(Postagem: Paulo Praxedes – Equipe do Blog Dominus Vobiscum – Referências: Veritatis  Suma Teológica  Ordem de Santo Agostinho  Patrística vol.24)

Veja Também:: Vida de São Agostinho | Livro I | Livro II | Livro III – Necessidade da fortuna para tornar-se sábio | Livro III – O sábio e o conhecimento da sabedoria | Livro III – Irrazoabilidade da descrição acadêmica do sábio | Livro III – Balanço da discussão e plano subsequente | Livro III – Refutação do assentado primado dos Acadêmicos

Até o próximo post! E divulguem/compartilhem este estudo com seus amigos para que juntos possamos aprender com os doutores da nossa Igreja que é Una, Santa, Católica, Apostólica e Romana!

Papa convoca católicos para dia de jejum e vigília pela paz na Síria

manchetes-siria-papa (1)A frase que mais ouvi na JMJ2013 no Rio de Janeiro foi a seguinte: – Esta é a juventude do Papa! Todos os dias ouvíamos isto nas ruas do Rio de Janeiro (várias vezes diga-se de passagem). Gente com camisetas, terços, cruzes e bandeiras passeavam na Orla de Copacabana bradando em alta voz a sua fidelidade a Igreja Católica e ao Papa Francisco. Realmente foi algo lindo de se ver!

Porém a vida dá voltas, o tempo passa e agora o Papa resolveu convocar não apenas a juventude do Papa, mas os tiozinhos do Papa, os velhinhos do Papa, a criançada do Papa… Enfim, todos aqueles que são católicos para um dia de jejum e vigília de oração. Ele disse:

“Irmãos e irmãs, decidi convocar para toda a Igreja, no próximo dia 7 de setembro, véspera da Natividade de Maria, Rainha da Paz, um dia de jejum e de oração pela paz na Síria, no Oriente Médio, e no mundo inteiro… Convido também a unir-se a esta iniciativa, no modo que considerem mais oportuno, os irmãos cristãos não católicos, aqueles que pertencem a outras religiões e os homens de boa vontade. No dia 7 de setembro, na Praça de São Pedro, aqui, das 19h até as 24h, nos reuniremos em oração e em espírito de penitência para invocar de Deus este grande dom para a amada nação síria e para todas as situações de conflito e de violência no mundo”. (Papa Francisco)

Ou seja, agora é hora de mais um gesto forte entre os cristãos, sobretudo da “Juventude do Papa”. É preciso que se organizem atos litúrgicos, momentos de oração, recitação do Santo Rosário, Adorações ao Santíssimo Sacramento… É preciso mobilizar a Igreja Católica e até os não católicos para assumirem um dia de oração (com jejum e penitência) junto com o Sumo Pontífice.

Sei que infelizmente existem muitos católicos que não tem o hábito de fazer jejum. O que deveria ser algo normal nas nossas vidas, tem se transformado em algo tão extraordinário que muitos só o fazem (quando fazem) na sexta feira santa. Mas é importante dedicar-se a esta causa sendo dócil ao pedido do Santo Padre. Para que o jejum seja válido é importante seguir algumas regrinhas básicas:

  • Tome o café da manhã
  • Faça uma oração oferecendo aquele dia de jejum pelas intenções do Santo Padre e pelas suas intenções particulares
  • Recolha-se ao silêncio o máximo que for possível
  • Opte por uma das formas de jejum ensinadas pela Igreja Católica (veja abaixo)
    • Penitência – Para doentes e pessoas que não tem o hábito de jejuar. Tome seu café da manhã e durante o dia faça apenas duas refeições (um lanche simples, e almoce ou jante). Se optar pelo almoço, no horário da janta faça um lanche simples (sanduíche e suco por exemplo). Se optar pela janta, faça um lanche na hora do almoço. Evite comer fora destes horários. Recuse doces, bolos, tortas e cafezinhos.
    • A base de líquidos – Depois do café, tome apenas líquidos. Sucos (não vitaminas) e chás são bem vindos. Nos horários de refeição, pode tomar um caldo (não sopa). Jante normalmente.
    • A base de pão e água – Depois do café, passe o dia à base de pão (puro) e água. Pode consumir pão caseiro desde que seja sem recheio. Evite comer o pão e beber a água ao mesmo tempo, pois pode dar dor de cabeça. Jante normalmente.
    • A base de água – Depois do café, tome apenas água. Jante normalmente.

Caso durante o dia você sinta dores de cabeça ou tenha algum tipo de doença, encerre o jejum e come normalmente. Lembre-se que o Papa exclamou que “a humanidade precisa ver gestos de paz e escutar palavras de esperança e de paz!”. Agora é a hora da RCC em seus diversos grupos de oração se unirem e fazerem uma vigília, dos sacerdotes nas diversas paróquias do nosso país programarem uma adoração com seus paroquianos, ou até a recitação do Santo Terço… Pastorais e movimentos, ninguém pode ficar parado. No Vaticano a Vigília terá início às 19h00 e terminará às 24h00 (horário de Roma).

portas-abertas-campanha-apoie-siria

Agora é com você. Repasse este texto adiante e mobilize a sua paróquia, comunidade ou grupo de jovens. Procure saber o que está acontecendo na Síria. Na medida do possível estarei escrevendo aqui também. Entre nessa conosco! Agora é a hora de mostrar a força da juventude do Papa!

Novas Marias: Comunidade Beatitudes lança encontro trimestral para mulheres

novas mariasFaz um tempo (para ser mais exato desde que sai da Canção Nova) que acompanho o trabalho da Comunidade Beatitudes. O que começou pela Rádio Beatitudes, logo foi se transformando em uma amizade que dia após dia tem se tornado sólida e verdadeira. Sempre que é possível eu troco ideias com o Silvinho Zabisky ou com a Carol Zabisky fundadores da comunidade. Nestes quase cinco anos, pude ver o esforço desta gente boa para ser de Deus, evangelizar e guardar a fé.

Pois bem, ontem a Beatitudes realizou um encontro só para mulheres chamado Novas Marias. Pedi que a Carol Zabisky me mandasse um texto para explicar aos meus leitores o conteúdo do encontro. O evento fez tanto sucesso que já estão marcando novas edições (a próxima será dia 26 de outubro). Logo abaixo (em marrom) o texto. Depois eu volto!

Aconteceu neste final de semana, o encontro Novas Marias, promovido pela Comunidade Beatitudes, de Araraquara-SP. Novas Marias é uma profecia que vem do Coração de Jesus. Um brado do Senhor, um desejo de Seu Coração. O desejo profundo de ver Sua Igreja e a sociedade repleta de mulheres renovadas pelo Espírito, que se pareçam com Sua Mãe.

É urgente o levantar de mulheres que queiram ser aquilo o que Deus quer. O que Deus planejou… mulheres que refletem a beleza e a dignidade do que é ser mulher, ser verdadeiramente feminina.

Sim, as Novas Marias são mulheres que querem se assemelhar a Maria em todas as áreas de sua vida:

  • no ser filha,
  • ser esposa,
  • ser mãe,
  • ser consagrada.

As Novas Marias são mulheres que descobriram em Maria, o exemplo mais perfeito do que é ser mulher. Mulher conforme a vontade de Deus, aquela mesma da Criação. O pecado original deteriorou e deturpou a imagem feminina, ferindo sua feminilidade em tantas instâncias. Porém, pelo Espírito, podemos entrar no Ventre de Maria para sermos moldadas e feitas novas mulheres. Mulheres que conseguem brilhar na família e na sociedade a beleza da feminilidade. Feminilidade que sabe acolher, que sabe ser doce e forte ao mesmo tempo, que sabe amar, que sabe cuidar…

O encontro Novas Marias é baseado na carta apostólica MULIERIS DIGNITATEM (a dignidade e a vocação da mulher) de nosso querido beato João Paulo II. Através deste documento, vamos conhecendo a condição feminina desde a Criação, passando pelo pecado e pelas consequências danosas deste à feminilidade, chegando até a dignidade que Jesus vem devolver à mulher no seu convívio e encontro com ela. O encontro também permite às mulheres um encontro profundo com Jesus Eucarístico. Torna-se então, um encontro com Jesus, no ventre de Maria, para ali sermos curadas de nossas feridas mais profundas.

O Novas Marias será um encontro trimestral. Em cada encontro teremos um tema específico referente a temas de cura, conhecimento e formação em relação à identidade feminina.

Voltei! O encontro é ministrado sempre em Araraquara pela comunidade Beatitudes. Mulheres de todo o Brasil podem participar. Caso necessitem de hospedagem, conversem com a Carol e tudo irá se ajeitar. Além disso sempre existe a possibilidade da comunidade realizar este evento em sua cidade. Entrem em contato: szabisky@gmail.com. Agora fica uma pergunta no ar: Quando vai acontecer o encontro só para homens heim Silvinho Zabisky?