Formação para músicos: Você sabe a diferença entre uma música litúrgica e uma música religiosa?

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Desde os meus quinze anos de idade (e vai tempo) assumi como missão tocar em missas e grupos de oração. Eu meu violão rodamos o mundo pela graça de Deus e pela experiência missionária que tive por 11 anos com a Comunidade Canção Nova. Junto com os caminhos que o Senhor me conduziu, também vieram muitos aprendizados que vez em quando tenho a oportunidade de partilhar. Não sou nenhum especialista na área de música litúrgica, porém sempre que posso busco aprender, pois para mim a missa é o ápice da fé católica e quando tenho a oportunidade de tocar em uma missa, gosto de fazer bem feito. Nem sempre consigo é verdade, mas eu tento… Não é assim também com você?

Portanto em alguns posts do blog Dominus Vobiscum irei partilhar com vocês um pouco do que aprendi. Não sou tradicionalista e nem tampouco modernista. Portanto o que escreverei aqui não tem a intenção de fazer você ser isso ou aquilo. Sou católico, sou igreja e tenho a consciência que missa é missa, movimento é movimento e pastoral é pastoral. Cada macaco no seu galho. Nada contra as músicas do movimento A ou B. Só que na minha opinião, para se tocar uma música na missa, ela precisa ser litúrgica e apropriada para o momento (opinião esta embasada nos documentos da Igreja e nos vários cursos que tive a oportunidade de participar). Quero começar este aprofundamento indicando um documento simples e básico que todo músico católico deveria ler: CANTO E MÚSICA NA LITURGIA PÓS-CONCÍLIO VATICANO II (Clique aqui para baixar)

Para iniciarmos esta conversa, é preciso que se diga que a música litúrgica tem características próprias. Ela está ligada a um rito, nasce a partir de um rito que tem conteúdo e gestos próprios. Portanto, música litúrgica é música ritual. Muitos agentes de música litúrgica, desconhecendo as características da música ritual, cantam nas celebrações qualquer música, simplesmente pelo fato de “estar na moda”.

Ela é parte integrante da Liturgia, é servidora da Liturgia. Nós não devemos cantar na Missa, mas sim cantar a Missa (cf. Estudos da CNBB 79: A música litúrgica no Brasil, n. 27).

O canto litúrgico “precisa estar intimamente vinculado ao rito, ou seja, ao momento celebrativo e ao tempo litúrgico”. Por isso antes de escolher um canto litúrgico é preciso aprofundar o sentido dos textos bíblicos, do tempo litúrgico, da festa celebrada e do momento ritual. Portanto, músicas distanciadas do momento ritual ferem a dignidade de uma celebração eucarística.

Por repito e enfatizo: Se você é animador litúrgico na sua paróquia leia o documento CANTO E MÚSICA NA LITURGIA PÓS-CONCÍLIO VATICANO II (Clique aqui para baixar).

Como dizia santo Agostinho aos pagãos que indagavam sobre sua fé:

“Queres ver em que eu creio, venha à Igreja ouvir o que canto”. (Santo Agostinho)

É preciso distinguir a diferença entre a música liturgia e música religiosa.

Uma música religiosa, por melhor que seja não serve para o uso litúrgico, mas foi composta para outra finalidade. São músicas que expressam um sentimento religioso dos fiéis, mas não têm lugar na liturgia. Elas servem para encontros, exercícios de piedade, etc. Na música religiosa podemos encontrar cantos para encontros, para reuniões de grupos de movimentos, cantos para grupos de oração, etc.

Não devemos e nem podemos nutrir um pré-conceito a respeito da música religiosa. Ela tem seu valor na vivência cristã. Ela não é maior e nem menor. Não é pior e nem melhor. Ela é importante para a nossa fé, só que quando usada no momento certo. Pelo fato de não serem adequadas para liturgia não significa que não tem sua importância no sentimento religioso de nosso povo. Porém, não podemos cair no erro de acharmos que temos o direito de colocá-las na liturgia só porque são bonitas e animadas e por conta disto desprezarmos a música litúrgica. Cada canto no seu lugar. Não temos o direito de ignorar as regras litúrgicas e as orientações do Magistério da Igreja.

Portanto se você deseja ser um bom animador litúrgico (prefiro usar este termo ao invés de ministro de música), é necessário caminhar na busca de um conhecimento profundo da liturgia católica. A partir do próximo post, vamos começar a explicar passo a passo cada momento da missa, dando dicas práticas sobre como escolher o canto certo para a hora certa.

Vamos explicar e mostrar alguns erros que alguns músicos e padres cometem (talvez até por falta de atenção, ou de estudo) na hora de cantar na Santa Missa. E vamos dar algumas dicas para você que deseja compor cantos litúrgicos. Mas olha: Tudo sem “mimimi” ok!?

Mas antes faça um exercício simples: Das músicas que você conhece, separe as que são religiosas das que são litúrgicas. Faça uma lista e tente pensar em um repertório litúrgico. Depois mostre ao seu sacerdote ou a alguém que conheça um pouco mais de liturgia… É um desafio não é mesmo?

Pax Domini!

Os brutos também evangelizam. E nem adianta “mi, mi, mi”…

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Quem disse que para evangelizar todo mundo tem que ser politicamente correto? Ora, os brutos também evangelizam!

Ontem escrevi um texto que com certeza foi o texto mais polêmico deste blog (que já passou por tantas polêmicas em seus sete anos de existência). No texto eu mostrei a Carta Circular emitida pela Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos chamada O SIGNIFICADO RITUAL DO DOM DA PAZ NA MISSA. Na dita carta a Igreja entre outras coisas afirma o que já havia afirmado no documento REDEMPTORIS SACRAMENTUM onde entre outras coisas:

De todos os modos, será necessário que no momento de dar-se a paz se evitem alguns abusos tais como:

– A introdução de um “canto para a paz”, inexistente no Rito romano.

– Os deslocamentos dos fiéis para trocar a paz.

– Que o sacerdote abandone o altar para dar a paz a alguns fiéis.

– Que em algumas circunstâncias, como a solenidade de Páscoa ou de Natal, ou Confirmação, o Matrimônio, as sagradas Ordens, as Profissões religiosas ou as Exéquias, o dar-se a paz seja ocasião para felicitar ou expressar condolências entre os presentes.

d) Convida-se igualmente a todas as Conferências dos bispos a preparar catequeses litúrgicas sobre o significado do rito da paz na liturgia romana e sobre seu correto desenvolvimento na celebração da Santa Missa. A este propósito, a Congregação para o Culto Divino e a Disiciplina dos Sacramentos acompanha a presente carta com algumas pistas orientativas.

É interessante dizer que quando a igreja diz “evitem alguns abusos” ela está dizendo, “acaba logo com isso”, “vamos mudar isso”, “acabou”, “já deu”. A igreja tem o modo de dizer as coisas. Eu tenho o meu jeito. Não vi motivo para tanta choradeira. Mais de 60.000 pessoas leram o artigo, 100 pessoas comentaram e uns poucos choraram. Acho é que a carapuça serviu. E deve ter doido…

Sinceramente fiquei surpreso com o “mimimi” de um monte de gente. Fui taxado de tradicionalista, irônico, desagregador… Foi tanta choradeira que fiquei besta. Questionaram o meu modo de escrever às vezes um tanto… rude. Um monte de comentário dizendo que eu deveria ser mais civilizado, menos violento, menos grosseiro, menos isso, mais aquilo… Sinceramente, não esperava tanta gente dodói comentando um post só. Tudo bem que a maioria destes comentários não reflete o público que geralmente passa por aqui.

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Aqui neste blog você vai encontrar palavras duras. Mas já avisamos que a evangelização aqui é meio ao estilo “Seu Lunga de ser”. Conhece seu Lunga? Não? Então procura no google! 

E quem passa por aqui sabe que eu não sou, nunca fui e nunca serei um docinho de coco com as palavras. Sei que a polidez e a afabilidade são muito importantes. Mas nem sempre. Em determinados casos um pouco de ironia não é ilícito não. Digo e provo. Vamos ao catecismo:

A jactância ou vanglória constitui um pecado contra a verdade. O mesmo se diga da ironia que visa depreciar alguém, caricaturando, de modo malévolo, um ou outro aspecto do seu comportamento. (CIC§2481)

Ao ler o catecismo, temos uma primeira impressão de que de fato, a ironia é um pecado contra a Verdade. Mas cabe-nos ainda perguntar: isto se aplica a toda espécie de ironia? Ou ainda: a quê, exatamente, refere-se o catecismo quando coloca a ironia como sendo um pecado contra a Verdade? Do catecismo passemos para os doutores da Igreja. Santo Tomás de Aquino também fala sobre a ironia na Suma Teológica. Nela, ele afirma que:

“… Nos pecados de palavras parece que deve considerar-se, sobretudo, com que intenção se pronunciam as palavras. (…) Se alguém pronuncia palavras de insulto contra outro, mas sem intenção de desonrá-lo, e sim para corrigi-lo ou por outro motivo similar, não profere um insulto formal e diretamente, senão acidental e materialmente. (…) Por isso, isto pode ser algumas vezes pecado venial e outras vezes nem sequer haver pecado” (II-IIae, q.72, a.2).

Isso nos explica melhor o sentido do parágrafo 2481 do Catecismo; a ironia que é pecado contra a Verdade é aquela “que visa depreciar alguém”, que é feita “de modo malévolo”. Se, ao contrário, for usada no meio dos embates apologéticos, com o intuito de defender a Verdade e condenar o erro, para desmascarar os sofismas levantados contra Deus e expor ao ridículo os inimigos da Santa Igreja, então a ironia pode ser não apenas lícita como também meritória. E, desta boa aplicação da ironia, há abundantes exemplos na História da Igreja.

Sendo já meio-dia, Elias escarnecia-os, dizendo: Gritai com mais força, pois (seguramente!) ele é deus; mas estará entretido em alguma conversa, ou ocupado, ou em viagem, ou estará dormindo… e isso o acordará. (1Rs 18, 27)

Se hoje um santo, um padre, um seminarista ou até um leigo “escarnecesse” os inimigos da igreja, seria achincalhado publicamente. Entretanto pensemos: Se isto fosse mal aos olhos de Deus, por que Elias obteve a vitória diante dos profetas de Baal?

E os santos que se envolveram em polêmicas foram por muitas vezes ácidos e irônicos? Existe um escrito de São Jerônimo que, na minha opinião, todos os católicos deveriam ler e reler: trata-se do Tratado da Virgindade Perpétua da Santíssima Virgem. Foi uma polêmica que o santo travou com um herege chamado Helvídio, que negava a Virgindade de Maria Santíssima.

Há algum tempo, recebi o pedido de alguns irmãos para responder a um panfleto escrito por um tal Helvídio. Demorei para fazê-lo, não porque fosse tarefa difícil defender a verdade e refutar um ignorante sem cultura, que dificilmente tomou contato com os primeiros graus do saber, mas porque fiquei preocupado em oferecer uma resposta digna, que desmoronasse os seus argumentos.

Não é um exemplo isolado. Muitos que poderiam ser citados. Lembremo-nos do que disse São Paulo, que era humilde e cortês na maior parte das vezes, mas como todo homem com brios, não tinha sangue de barata e descia o porrete quando necessário. Diante de um escândalo que abalava a comunidade de Corinto, não mediu as palavras declarou que um pecador tinha que penar na mão do capeta:

Ouve-se dizer constantemente que se comete, em vosso meio, a luxúria, e uma luxúria tão grave que não se costuma encontrar nem mesmo entre os pagãos: há entre vós quem vive com a mulher de seu pai!… (…)

Em nome do Senhor Jesus (…), seja esse homem entregue a Satanás, para mortificação do seu corpo, a fim de que a sua alma seja salva no dia do Senhor Jesus. (I Cor, 5:1-5)

Outro bom exemplo: São Thomas More, que deu a vida pela Igreja como mártir ao se negar apoiar o divórcio do Rei, diante das imensas abobrinhas que Martinho Lutero havia dito sobre um tratado teológico escrito pelo Rei Henrique VIII e escreveu a Lutero uma resposta com tantos palavrões que deixariam a galera do Pânico de cabelo em pé…

“Enquanto continuardes decidido a dizer essas desavergonhadas mentiras, a outros será permitido que, em defesa de Sua Majestade Britânica, joguem de volta na vossa boca cheia de merda, verdadeiramente o depósito de toda merda, a sujeira e merda inteiras que vossa execrável podridão vomitou, e esvaziar todos os esgotos e privadas na vossa coroa despida da dignidade de coroa sacerdotal, em prejuízo da qual decidistes bancar o palhaço contra nada menos que a coroa real.”

Obviamente, é necessário haver uma reflexão; claro que a ironia pode por vezes degenerar em deboche grosseiro, em agressão gratuita, e pode se transformar sim em falta de caridade. E sabemos também que o tom irônico não dispensa os argumentos, como é óbvio, sob a gravíssima pena de ser contraproducente. Mas – e isso é o mais importante aqui – nem toda ironia é falta de caridade, e é lícito empregá-la na defesa de Nosso Senhor. Que a Virgem Santíssima nos faça católicos de fibra; e que os santos nos ensinem a fugir do “politicamente correto”, sabendo reconhecer o valor e a importância de dedicar-se com zelo ao Bom Combate que todos nós somos chamados a travar.

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No post eu não faltei à caridade com ninguém e nem citei nomes, portanto a consciência está tranquila. Sei que existem muitas paróquias que praticam o rito da paz da forma correta. Então para quê se preocupar? Então, se alguém se sentiu ofendido, na boa guarda a informação e siga seu caminho. Não irei mudar meu modo de escrever para agradar aos fofinhos e politicamente corretos. Definitivamente respeito humano é uma coisa que passa longe daqui! A proposta do blog continua: Ajudar os católicos a conhecerem a sua fé. Porém em nenhum momento eu falei que isso seria de uma forma doce…

E ainda que pensem ao contrário, eu sou até uma pessoa tranquila. Meio ácida é verdade, mas tranquila. Quer me conhecer, fique a vontade. Mas eu tenho um “quê” de Seu Lunga. Portanto vai devagar!

Pax Domini

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