Formação para músicos: Ao cantar na missa qual a minha postura com relação as palmas?

E fica a pergunta: Como deve se portar um animador litúrgico com relação as palmas na missa?

A polêmica a respeito das palmas na missa não é de hoje. Desde muito tempo acompanho esta discussão que parece não ter fim. De fato segundo o professor Felipe Aquino, bater palmas na missa não é uma atitude muito adequada (veja o vídeo abaixo).

Certamente esta é uma discussão antiga que só vai ter fim quando sair uma outra carta circular como a deste fim de semana último. Por que quem defende as palmas tem as suas alegações. Bom, garanto que se um dia isto acontecer nosso blog mostrará o fato, sem abrir mão da sua tradicional acidez. (brincadeirinha tá?)

Um dos melhores blogs que conheço – O Catequista – escreveu um post que concorda com o que ensina o Professor Felipe Aquino, muito embora afirme sabiamente que não vale a pena fazer disso um cavalo de batalha e travar um guerra santa por este motivo. Eles trazem em um de seus posts um vídeo descoberto recentemente (ao menos por mim) em que o Papa João XXIII, considerado por tantos como um papa “moderninho” pede (até de forma carinhosa, tipo docinho) para o pessoal “maneirar” nas palmas…

Eu também tenho a mesma opinião: Não acho que sejam corretas as palmas na missa por achar que a missa é o Sacrifício de Nosso Senhor e como tal, não é o momento para palmas e festas, muito embora pense que é muita polêmica para pouco assunto. Os motivos que discordo são os mesmos que já foram citados acima e penso que não vale a pena repetir todo o texto. Ficaria um post demasiadamente longo. Todavia é preciso que eu diga que na minha caminhada na fé, já bati muitas palmas na missa. E o pior: Já animei muitas missas pedindo para as pessoas acompanharem os cantos com palmas. Mas graças a Deus, a muitas conversas com pessoas mais experientes que eu, e a muita leitura, hoje penso diferente. Como disse em outro post: Errei por desconhecimento e não por rebeldia.

É que como muitos músicos católicos eu fazia parte daquela turma que canta na missa, toca na missa, mas não estuda a missa. Um dos maiores erros dos animadores litúrgicos é não gastar tempo para estudar liturgia. Estudamos canto, estudamos instrumentos, estudamos um monte de coisa. Liturgia que é bom nada! Só que quando nos dedicamos um tempo para isso, entendemos que não é preciso muita coisa para entender que as palmas na missa não são necessárias e não fazem falta na vida de ninguém.

Em tempo: É possível bater palmas em um grupo de oração, na pastoral que você participa, no movimento que você faz parte, em um show de música católica… Tudo isso é possível! O único momento em que isto não é viável é no momento da Santa Eucaristia.

Até se prevê palmas em alguns poucos momentos da liturgia, mas nenhum deles envolve músicas. Veja:

  • Podemos bater palmas para acolher um neo batizado;
  • Podemos bater palmas para demonstrar alegria após o consentimento dos noivos, no Ritual do Matrimônio;
  • Podemos bater palmas na criação de novos cardeais;
  • Podemos bater palmas na posse de párocos.

Porém o grande questionamento deste post nem é este. A grande questão que estou propondo é: Sou animador litúrgico. Canto nas missas, e na minha paróquia as palmas já são uma coisa normal sobretudo na hora dos cantos. Como mudar este quadro? Posso fazer algo?

A primeira coisa a dizer é que até na hora dos cantos é interessante que não se batam palmas. Estou sendo radical? Não.

O problema é que o canto litúrgico tem como forte as letras. Como diz a CNBB no curso para animadores litúrgicos: Na liturgia, a letra precede a melodia. O grande diferencial de um canto litúrgico é que as letras das músicas precisam entrar em nosso coração e elas (se bem escolhidas) vão fazer parte do conjunto que é a liturgia. As palmas e a agitação muitas vezes nos impedem de entrar na música e consequentemente no restante da liturgia. E se não atrapalham a você, certamente podem atrapalhar outras pessoas que estão na missa. É importante ressaltar que a missa não é exclusividade de um grupo, mas de toda a paróquia. Ali existem pessoas que se sentem mais a vontade para entrar na liturgia com menos barulho, menos alvoroço. Portanto, você como animador litúrgico precisa pensar em tudo isso e não apenas no que você gosta.

Bom, o primeiro passo para que esta mudança aconteça de forma simples e natural é você parar de bater palmas. Quando o animador litúrgico bate palmas, a assembleia de forma geral segue o gesto e acaba por imitá-lo. Quando você canta de forma sóbria, com gestos moderados, o seu exemplo vai transformando a assembleia. A postura do animador precisa ser sóbria. Com isto não estou dizendo que precisa ser triste. Não precisa ser um chato de galocha. Você pode ser sóbrio, cantar de uma forma que expresse a sua fé e incentive os irmãos a cantarem de forma participativa sem precisar bancar o animador de auditório.

Evite de usar expressões como “vamos lá”, “nas palmas”, “tchap, tchap, tchap”. Repito: Pode ate usar isso na sua pastoral ou movimento, mas na missa definitivamente não. Além de expressões totalmente inadequadas a Santa Missa, a impressão que dá é que você quer fazer o mesmo que um cantor sertanejo universitário faz em seus shows. Aceita o conselho na caridade: Faz mais isso não que é feio… Você pensa que está arrasando quando na verdade está se expondo!

Mas e se a própria assembleia começa a bater palmas por ela mesma? Bom, ai é uma situação que passa dos seus limites. O que você deve fazer é dar o exemplo. O resto cabe ao sacerdote…

Infelizmente boa parte do nosso clero não educou o povo a evitar as palmas; os padres que são contra, as toleram, para evitar o “mimimi”. Os que são a favor, as incentivam ainda mais, achando que assim a missa ficará mais gostosa e “espiritual” com as palmas, como se Jesus dependesse disso para entrar no coração das pessoas. Mas seja de um jeito ou de outro, o importante é você manter a postura sóbria e cantar, não para dar show, mas para participar bem da Santa Missa e ajudar as pessoas a fazerem o mesmo.

Mas é importante você saber: Você não é Roque do Silvio Santos, não é o louro José da Ana Maria Braga, não é o Róger do programa do Danilo Gentili, e nem mesmo o Russo do Chacrinha (nossa agora eu fui longe)… Você está ali prestando um serviço litúrgico a Igreja. É preciso saber que não é hora do show, mas a hora do sacrifício.

Roque e Silvio Santos

Com todo respeito aos animadores de auditório: A Missa precisa algo mais. Precisa de animadores litúrgicos que levam o povo a rezar e não a bater palmas.

Portanto se você assume a postura de não bater palmas, a responsabilidade do ato, passa a ser exclusivamente do sacerdote e não sua. Afinal de contas, neste caso, cabe a ele corrigir as pessoas como fez o Papa João XXIII no vídeo acima. E se você for jeitoso com as palavras como eu (estou brincando tá? Eu não tenho muito jeito com gente dodói), melhor deixar esta missão para ele. Afinal de contas ele tem mais trato com o povo que se ofende fácil do que nós músicos.

Somos chamados a cantar bem na Santa Eucaristia. Mas nossa postura precisa ser sóbria, porque o momento (mesmo nas missas semanais) é solene. Deixe os gestos para sua pastoral ou movimento. Você ganha, a assembleia ganha, a missa ganha e com certeza Jesus agradece.

Pax Domini

 Documento da CNBB: CANTO E MÚSICA NA LITURGIA PÓS-CONCÍLIO VATICANO II (Clique aqui para baixar)

Veja também: Você sabe a diferença entre uma música litúrgica e uma música religiosa?

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14 comentários sobre “Formação para músicos: Ao cantar na missa qual a minha postura com relação as palmas?

  1. Duvida: não existe diferença entre bater palmas para festejar algo dentro da celebração e bater palmas para ritmar ou acompanhar a música? Exemplo: “Uma salva de palmas pra Jesus que nos perdoa!” = festejar algo. Respondendo: acho que essa diferença existe!
    Dentro contexto de musicas existentes hoje, palmas para acompanhar o ritmo da música, (sem firulas lógico, palmas mais rápidas depois lentas, etc.) é correto?

    • Olá Paulo,

      Em um curso que fiz na CNBB (2009) a recomendação é que o animador litúrgico não bata palmas enquanto canta. Infelizmente isto acabou virando um hábito nas nossas paróquias, porém não é o ideal. Nosso objetivo com estes posts aqui é traçar o perfil enquanto músicos (o que devemos fazer, como nos portar, que músicas escolher). Agora quanto as palmas fora da música muito menos. No vídeo acima, veja que o professor Felipe dá o parecer dele para todo tipo de palma (na música e fora dela) e eu concordo com ele. Eu sinceramente acho um saco padre que fica pedindo palmas pra isso e pra aquilo…

      Pax Domini

    • Sabe, a melhor coisa para um animador litúrgico é manter uma postura mais sóbria. Eu não gosto muito quando um animador litúrgico assume um papel de protagonista em uma celebração. Quanto mais discreto melhor.

    • Paulo Eduardo, bom dia, a paz!

      Bom, pegando o gancho do exemplo que você deu, podemos imaginar a cena: qual a sua postura quando pede perdão para alguém? humildade e expectativa esperançosa pelo perdão. Quando você recebe o perdão dessa pessoa, você faz festa e aplaude? Não, sua atitude continua humilde, mas já na alegria pelo perdão recebido você diz: obrigado.
      Passando isso para a Santa Missa, esta atitude de humilde alegria é mais ressaltada ainda, porque você está diante do seu Deus Todo-Poderoso, o Senhor de toda a glória e majestade, Jesus. Qual nossa atitude quando estamos diante de alguém da realeza humana? Respeito. Fazemos até reverência, damos um tratamento diferenciado. Esta deve ser sempre nossa atitude na casa do Senhor nosso Deus em qualquer momento, seja na Missa ou fora dela, pois Jesus está sempre presente no sacrário.

      Agora, partindo para o lado da instrução: Não, não se bate palmas. Por quê? Porque a Instrução Geral ao Missão Romano não prevê este gesto, nem mesmo o de levantar os braços no hino de louvor ou na aclamação. Os únicos gestos previstos lá são: sentar, ficar em pé, ajoelhar-se, caminhar na procissão das ofertas ou da comunhão. E, repare: cada gesto tem um significado profundo que é explicado lá. Lendo outra instrução, a Redemptionis Sacramentum, você lê claramente que: não está previsto no Missal, não é para fazer.

      No fim, tudo é uma questão de obediência.

      Grande abraço!

      • Então Christiane Vilhena,
        Eu sei que vc tem razão em argumentar tudo isso (e eu concordo com você), como até o Professor Felipe falou no vídeo acima. Porém quem mexe com a música litúrgica no dia a dia sabe que “o buraco é mais embaixo”. É interessante ter estes argumentos, saber que tais documentos existem, mas hoje o diálogo precisa acontecer partindo do “beabá” porque em geral não se estuda liturgia. O que é claro para você não é tão claro assim para o restante dos músicos. Sabe, este blog tem o desafio de pegar os documentos da igreja, e “debulhar” para as pessoas que tem dificuldade em entender estes documentos. A gente lê, pensa, e devolve com exemplos, ideias, sugestões…

        Sigamos. O próximo post será bem mais inquietante: Vamos falar sobre o uso de instrumentos na missa.

    • Sim irei colocar. Estou preparando um post exclusivo sobre eles.
      No entanto eu tenho receio de prender ao famoso “pode” e “não pode”.
      Não é essa a intenção das formações. Eu por exemplo defendo as baterias, porém com alguma ressalvas que se seguidas a risco não condenam em nada o seu uso.
      Quando isso cai no pode ou não pode… Ai dá Zica!

      • Verdadeeeeee, sempre tem os que falam que a Missa fica “mais participada” assim. Também sou dessas que passou vinte anos fazendo tudo errado, batendo palmas, mandando bater palmas, fazendo firulas vocais, incentivando os solos introdutórios e os do meio da canção, cantando música popular na Missa, colocando letras religiosas em melodias profanas e cantando isso na Santa Missa, adorava as viradas radicais na bateria, ainda dizia pro baterista e pro violonista: “nessa hora pode arrepiar e tocar o terror, porque é o tchan da musica!” … tudo achando que o fim (atrair fiéis) justificasse os meios e que estava tudo certo, porque eu estava louvando a Deus. Quando finalmente aprendi o que é a Santa Missa, quando fui estudar as catequeses e os documentos da Igreja… nossa, quanta vergonha! Isso foi há uns dois anos atrás. Agora peço perdão diariamente e me esforço ao máximo para ser uma cantora digna do Senhor, de seu Santo Sacrifício. E olha, quando vejo outros grupos fazendo isso… chega a me dar uma dor física, me encolho toda.

  2. conheci o seu site agora e tenho uma pergunta:
    Vc disse em seu texto “na Liturgia,a letra precede a melodia”
    O que dizer sobre letra em latim, já que não entendemos nada dessa língua?

  3. Carlos, eu acho que aqui entra o sentido do momento: se você sabe o que significa o momento da Comunhão, por exemplo, a procissão do povo de Deus para receber Jesus Sacramentado… não vai importar muito a letra. Vale também para os outros momentos, que aliás não são só em latim, mas em grego também, como o Kyrie Eleison. Eu particularmente não entendo muito de latim, mas quando escuto um coro assim, no Rito Extraordinário, por exemplo, ou quando assisto as Missas celebradas pelo papa Francisco, me sinto elevada espiritualmente a Deus, o som do coro, o órgão… nos remete ao divino, ao recolhimento, à oração. Me faz meditar sobre a maravilha que é estar me dirigindo ao altar do Senhor para receber Jesus Eucarístico. Me faz pensar que os anjos estão cantando enquanto me dirijo ao altar… bem louco, né? Aí já vou caminhando e me preparando, rezando o Ato de Contrição, louvando e bendizendo ao Senhor por essa graça… Penso que era isso que o povo de décadas atrás pensava, por isso era bem mais religioso, mais íntimo do Sagrado.

    Mas não posso parar por aí, vou correr atrás e procurar conhecer melhor esta que é a língua oficial da Igreja, pois não podemos amar o que não conhecemos, não é mesmo? às vezes me envergonho porque qualquer advogado sabe mais latim do que eu… rsrsrsrsrsrsrsrsrs.

    Grande abraço!

  4. Pingback: Formação para músicos: Que músicas escolher para o canto de entrada? | Dominus Vobiscum

  5. Saúde e paz!
    Encontrei essa página com o belo trabalho e esclarecedor sobre palmas na Liturgia. Gostei e até incluo alguns comentários, na expectativa de estar colaborando para as adequações que precisam ser feitas, desde o Concílio Vaticano Segundo.
    Palmas na Missa ou nas outras celebrações dos 7 Sacramentos, nem pensar; devemos evitar misturar o que não é sagrado com o que é sagrado, de modo que, diante duma celebração que é dirigida a Deus, toda a seriedade possível deve ser dada.
    Quem tem uma função ou ministério na ação litúrgica deve se portar de maneira séria, digna e responsável. Quem exerce uma função como cantor, comentarista/animador, coroinha… ou ministerial como Leitor´, Acólito (instituídos), ministros extraordinários deve dar o exemplo para todos.
    A inserção de palmas em alguns momentos, motivadas por um batizado, um enviado ou que receba algum Sacramento dentro da ação litúrgica, também não vale, e aí pergunto: por que não continuar o culto normalmente como deve ser e, após a bênção final se fazer a farra?
    Na comunidade onde participo, devagarinho fui propondo a separação daqueles enfeites, palmas, parabéns, homenagens, transferindo-os para outros momentos, como por exemplo:
    1- Na Missa com os vicentinos, que têm aquelas intenções, entrada dos objetos do movimento, família vicentina, etc. O que foi feito simplesmente foi transferir tudo o que é simbolismo para antes da Procissão da Entrada. Forma-se a Procissão, o comentarista faz a introdução/abertura e motiva a entrada da Conferência com os seus símbolos. Eles entram, colocam seus objetos numa mesa fora do Presbitério e retornam para seus lugares. Em seguida vem a Procissão da Entrada com o canto inicial.
    Com isso tiramos o tal de ofertório simbólico, que é um concorrente com o Ofertório da Missa…
    Transferimos para depois da Benção Final toda a festividade: a presidente faz aquele comentário de todos os anos; canta-se o Hino a São Vicente, depois os parabéns para a Conferência aniversariante e demais aniversariantes da semana.
    2- Nas Missas e Celebrações da Palavra de Deus, sempre contando com a colaboração do padre, pedimos ao povo que fique por uns 5 minutos após a bênção e cantamos os parabéns, batemos palmas como comunidade unida. Válida também para as Missas de Nossa Senhora: fazemos o momento mariano depois da bênção cantamos “Rogai por nós ó mãe tão pia…”, rezamos a Consagração e encerramos.
    Sempre temos a participação de todos os presentes, apesar de ser algo que leva um certo tempo, mas todos ficam e participam com muita alegria.
    Hoje estamos na luta por silêncio dentro da igreja.
    Saudações fraternas,
    Jayme Sobrinho

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