O homem é um animal político. Assim dizia Aristóteles no seu célebre livro intitulado “Política”. Já Santo Agostinho dizia em seu livro Confissões:
Tu mesmo que incitas ao deleite no teu louvor, porque nos fizeste para ti, e nosso coração está inquieto enquanto não encontrar em ti descanso. (Santo Agostinho)
Ora, se o homem é um ser político e ao mesmo tempo um ser religioso (pois a busca de Deus é a única que pode aquietar o nosso coração), como pode a política não se misturar com a religião no nosso dia a dia, se dentro de nós estes dois atos (o religioso e o político) se revelam necessidades do ser humano enquanto ser diferenciado dos demais seres da terra?
Infelizmente quando se fala em política, a primeira coisa que nos vem em mente é a trágica política partidária que se faz no Brasil (que de partidária não tem absolutamente nada, haja vista que quase nenhum político da nossa nação defende partidos, mas seus próprios interesses). No entanto a política é mais que isso. Muito mais…
Quando lutamos para que uma rua seja asfaltada, ou reivindicamos por mais segurança em nosso bairro, ou ainda quando realizamos um abaixo-assinado para a criação de um posto de saúde mais próximo, também fazemos política. Naquela famosa reunião de condomínio, quando lutamos pelos interesses comuns e os da nossa família, fazemos política. Ou seja, a política é muito mais do que a nojenta briga político partidária que existe por ai. É muito mais do que corrupção, mensalão, petrolão e roubalheira do dinheiro público. É mais do que estes cretinos sem caráter que vivem as custas do nosso dinheiro.
E justamente por que vemos tantas atrocidades na política atual, é que muitos de nós desejam ardentemente se afastar da política, criando uma ojeriza até da palavra “política”. Um dia eu também já fui assim…
Desde os meus 15 anos participo das coisas da Igreja. Já fui de grupo de jovens, RCC, fui missionário da Canção Nova, participei de pastorais e ministérios diversos… E nessa história, já se vão 25 anos. Uma vida de dedicação as coisas de Deus.
E em boa parte deste período, sempre fui contra qualquer tipo de mistura entre fé e política. Nunca admiti que isso pudesse acontecer, e nunca acreditei que um político pudesse ser católico verdadeiro, ou que um católico verdadeiro pudesse se tornar político e continuar sendo católico. Na verdade para mim a política era uma coisa meio que demoníaca. E sinceramente, vi muita coisa ruim dentro da política que me fazia acreditar que isso era verdade. Quando via algo deste tipo na política, meu pensamento era: Política é coisa do capeta! Deus que me livre disso!
Ao longo da minha vida, vi políticos interesseiros se aproximarem da Igreja querendo votos doando migalhas aos padres… Sumiam depois das eleições. Vi políticos doarem faixas, barracas para quermesse, folhas de canto para missas, cartazes… Desde que tivesse seu nome lá: impresso e em destaque. Vi pessoas se oferecerem para fazer leitura na missa em época de eleição no intuito de se mostrar como candidato. Depois da eleição nem passava na porta da igreja. Vi cada coisa…
Vi pessoas que se diziam extremamente corretas se candidatarem, ganharem a eleição com o voto de católicos e mudarem, defendendo aspectos contrários a nossa fé. Vi católicos aparecendo em escândalos políticos… Infelizmente vi tudo isso. Cheguei a pensar que diante do poder e do dinheiro cada pessoa tem seu preço e ninguém seria tão santo assim a ponto de recusar o poder.
E cada vez que via essas coisas, mais me afastava da política. Mais tinha medo de me aproximar e cair na mesmice dos facínoras que via, e mais tinha raiva desta coisa que para mim era medonha e nociva. Para mim, um católico na política era o mesmo que uma ovelha gorda, jovem, tenra e inocente no meio de uma alcateia pronta para o abate em questão de segundos. Pobre ovelha…
Porém houve um dia em que rezando diante de Jesus Sacramentado depois de ver um certo episódio com um certo político, o Senhor tocou neste assunto comigo. É complicado explicar estas coisas místicas. Mas creio que só Deus para me fazer mudar de opinião com relação a este assunto, sobretudo depois do que tinha acontecido. Diante de Jesus, comecei a pensar sobre como um bom político poderia fazer a diferença para as pessoas. Não sei explicar com palavras, mas me vinham imagens a mente de possibilidades positivas onde um bom político poderia ajudar pessoas. Aquilo mexeu comigo. Senti que Deus me levava a rezar para que despertassem no país católicos políticos. Não quero ser político (Deus me livre). Mas partir deste dia, passei a pedir a Deus por isso. E sempre pedia (e peço até hoje) por políticos incorruptíveis, pois para mim esta é a nossa necessidade nesses tempos difíceis. Passei a pedir a Deus por políticos que amassem a Deus sobre todas as coisas e não a partidos. Passei a rezar por políticos que tenham Deus no coração e não se abram a ideologias ou ideias que são contrárias a nossa fé. Resumindo: Passei a pedir por santos na política. Se nosso Deus é o Deus do impossível, por que ele não poderia fazer nascer uma geração de santos para atuar onde vivem os lobos? Se Deus estiver no controle quem sabe as ovelhas doces e tenras não podem dar um “hadouken” nos lobinhos do mal? Até na política eu ponho minha fé em Deus e não nos homens…
Hoje eu tenho a clareza que nenhuma ideologia (partidária ou revolucionária) possa retirar nosso país do estágio no qual se encontra. Apenas Deus.
Ele é a nossa força e a nossa esperança. É Nele que cremos e confiamos. Todos os homens que se arvoraram em salvadores da pátria fracassaram. Sucumbiram diante do mal, da corrupção e do pecado. É óbvio que existem ideologias totalmente e declaradamente contrárias a fé católica que precisam ser rechaçadas. Mas toda ideologia é risco, sobretudo àquelas que se escondem hoje, para serem mais perversas no futuro. Porém homem algum pode nos salvar. Só Jesus salva!
E tenho outra certeza neste mundo: Política e religião precisam se misturar e a fé que temos precisa reger nossos atos políticos. Somente quando os católicos (desses que realmente querem ser santos) se envolverem com este assunto e adentrarem neste campo, o Brasil mudará. Não por eles, mas pelo Cristo que habita dentro deles. Hoje mais do que nunca, o católico é chamado a trazer sua fé para a sociedade, defendendo seus valores e transformando a sociedade em que vivemos aos moldes do evangelho. O Brasil é sim um país laico, mas a maioria do seu povo é católico, e no dia em que o católico entrar na política levantando a bandeira do evangelho, a coisa muda.
Hoje eu não vejo um católico na política como uma ovelha no meio de lobos famintos. Eu vejo um católico na política como uma cruz iluminada que demarca um território que é nosso, afastando as trevas de nós.
Oremos,
Dominus Vobiscum