Podcast: Como interpretar corretamente os textos bíblicos?

Nos últimos posts eu havia falado sobre critérios essenciais para que os católicos levem em consideração, no momento de interpretar a Sagrada Escritura. Descobri que tinha um podcast também da época em que era missionário da comunidade Canção Nova onde havia falado sobre isso. Acho que você vai gostar de ouvir. Após este podcast, vamos começar um assunto bem interessante ainda sobre a palavra de Deus: Quem discerniu a bíblia para que ela fosse o que é hoje? Quem discerniu a ordem dos livros? Porque esses livros foram aceitos e outros não? Aguarde!

Orientações do Vaticano para uma leitura correta das Sagradas Escrituras

Além dos cinco pontos que citei no post [Que parâmetros devemos ter para ler as Sagradas Escrituras?] para uma leitura correta das Sagradas Escrituras, encontrei algumas observações interessantes na Constituição Dogmática do Concílio Vaticano II sobre a Revelação divina, Dei Verbum, que recomenda três pontos ao se ler a Palavra de Deus:

1. Conteúdo e unidade da Escritura inteira – Quer dizer, não interpretar uma parte da Escritura fora do seu contexto integral. Muitas vezes um versículo só será bem entendido quando lido juntamente com outros.

Lembro-me de uma história que me contaram. Uma mulher estava com depressão, com vontade de morrer e resolveu “abrir a bíblia” para ver se havia um versículo que lhe desse uma direção. Ela abriu a bíblia e caiu no Evangelho…

Ele jogou então no templo as moedas de prata, saiu e foi enforcar-se.
(Mt 27,5)

Óbvio que aquela Senhora assustou-se com a palavra. Resolveu pegar uma outra palavra. E veio esta:

…Vai, e faze tu o mesmo…
(Lc 10,37)

Portanto, não podemos analisar a Bíblia fora do seu contexto. Um velho jargão nos ensina que: Um texto fora do contexto vira pretexto. Eu não posso sair por ai, interpretando a bíblia do meu jeito. Não posso sair “abrindo a bíblia” e interpretando um versículo isolado sem ler o contexto da palavra.

2. A Tradição viva da Igreja – A interpretação da Palavra de Deus nunca pode estar em desacordo com a Tradição da Igreja e vice-versa. A Palavra e a Tradição nunca andam desalinhadas. A palavra dos Papas, Santos Padres da Igreja e seus doutores estão sempre de acordo com a Palavra.

3. Analogia da fé – Como havia dito antes. Uma parte da Bíblia nunca poderá estar em desacordo com a outra. Precisamos sempre verificar a coesão das verdades da fé entre si. Uma não pode ser oposta a outra, pois o Espírito Santo não se contradiz.

Dominus Vobiscum

Madre Teresa de Calcutá comenta o evangelho de hoje

Chegaram à outra margem do mar, à região dos gerasenos. Logo que Jesus desceu do barco, veio ao seu encontro, saído dos túmulos, um homem possesso de um espírito maligno. Tinha nos túmulos a sua morada, e ninguém conseguia prendê-lo, nem mesmo com uma corrente, pois já fora preso muitas vezes com grilhões e correntes, e despedaçara os grilhões e quebrara as correntes; ninguém era capaz de o dominar. Andava sempre, dia e noite, entre os túmulos e pelos montes, a gritar e a ferir-se com pedras. Avistando Jesus ao longe, correu, prostrou-se diante dele e disse em alta voz: Que tens a ver comigo, ó Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Conjuro-te, por Deus, que não me atormentes! Efetivamente, Jesus dizia: Sai desse homem, espírito maligno. Em seguida, perguntou-lhe: Qual é o teu nome? Respondeu: O meu nome é Legião, porque somos muitos. E suplicava-lhe insistentemente que não o expulsasse daquela região. Ora, ali próximo do monte, andava a pastar uma grande vara de porcos. E os espíritos malignos suplicaram a Jesus: Manda-nos para os porcos, para entrarmos neles. Jesus consentiu. Então, os espíritos malignos saíram do homem e entraram nos porcos, e a vara, cerca de uns dois mil, precipitou-se do alto no mar e ali se afogou. Os guardas dos porcos fugiram e levaram a notícia à cidade e aos campos. As pessoas foram ver o que se passara. Ao chegarem junto de Jesus, viram o possesso sentado, vestido e em perfeito juízo, ele que estivera possuído de uma legião; e ficaram cheias de temor. As testemunhas do acontecimento narraram-lhes o que tinha sucedido ao possesso e o que se passara com os porcos. Então, pediram a Jesus que se retirasse do seu território.Jesus voltou para o barco e o homem que fora possesso suplicou-lhe que o deixasse andar com Ele. Não lho permitiu. Disse-lhe antes: Vai para tua casa, para junto dos teus, e conta-lhes tudo o que o Senhor fez por ti e como teve misericórdia de ti. Ele retirou-se, começou a apregoar na Decápole o que Jesus fizera por ele, e todos se maravilhavam. (Mc 5,1-20).

Comentário feito por Bem-aventurada Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade

Somos chamados a amar o mundo. E Deus amou de tal forma o mundo que lhe deu Jesus (Jo 3, 16). Hoje, Ele ama de tal forma o mundo que nos dá ao mundo, a ti e a mim, para que sejamos o Seu amor, a Sua compaixão e a Sua presença através de uma vida de oração, de sacrifícios e de entrega. A resposta que Deus espera de ti é que te tornes contemplativo, que sejas contemplativo. Tomemos a palavra de Jesus a sério e sejamos contemplativos no coração do mundo porque, se temos fé, estamos perpetuamente na Sua presença. Pela contemplação a alma bebe diretamente do coração de Deus as graças que a vida ativa está encarregada de distribuir. As nossas vidas devem estar unidas a Cristo vivo que está em nós. Se não vivermos na presença de Deus, não podemos perseverar. O que é a contemplação? É viver a vida de Jesus. É assim que a compreendo. Amar Jesus, viver a Sua vida no âmago da nossa e viver a nossa no seio da Sua. […] A contemplação não ocorre por nos fecharmos num quarto obscuro, mas por permitirmos a Jesus que viva a Sua Paixão, o Seu amor, a Sua humildade em nós, que reze conosco, que esteja conosco e que santifique através de nós. A nossa vida e a nossa contemplação são unas. Não é uma questão de fazer, mas de ser. De fato, trata-se da plena fruição do nosso espírito pelo Espírito Santo, que derrama em nós a plenitude de Deus e nos envia a toda a Criação como mensagem Sua, pessoal, de amor (Mc 16, 15)