Vida de Santo Agostinho de Hipona :: Contra os Acadêmicos – Livro II [Elucidação do problema a ser discutido]

Santo Agostinho de Hipona (4)Pax et Bonum! Amigos, que a Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos vocês! Dando continuidade aos estudos do livro “Contra os Acadêmicos“, hoje iremos, finalizar o livro II.

Como Licêncio, ruborizado, temesse o ataque de Alípio, intervim:

– Preferiste dizer tudo de uma vez, Alípio, a discutir, como se deve com estes jovens que não sabem falar.

Respondeu Alípio:

– De há muito tanto eu como os demais sabemos todos, e agora demonstrastes com o exercício da tua profissão, que és perito na arte da palavra. Assim, gostaria que primeiro explicasse a utilidade da pergunta de Licêncio. A meu ver, ou é supérflua, e neste caso seria igualmente supérfluo dar-lhe uma resposta mais longa, ou parece oportuna e eu não sei responder a ela, e neste caso te peço que não te moleste exercer o ofício de mestre.

– Recordas-te, disse eu, que ontem prometi que trataríamos mais tarde da questão das palavras. Agora o sol manda recolher nas cestas o que ofereci como jogos aos rapazes, tanto mais que o exponho mais como ornato que para venda. Mas antes que as trevas, que costumam proteger os Acadêmicos, nos impeçam  de escrever, quero que decidamos claramente entre nós a questão de que devemos tratar amanhã. Assim, responde-me se achas que os Acadêmicos tiveram uma doutrina certa sobre a verdade e não quiseram transmiti-la imprudentemente a desconhecidos ou a espíritos não purificados, ou realmente tiveram as opiniões que resultam das suas discussões.

Alípio: – Não quero afirmar levianamente o que eles pensavam. Quanto ao que se pode deduzir dos livros, sabes melhor que eu em que termos costumavam propor sua doutrina. Mas se me perguntares pela minha opinião pessoal,  creio que ainda não se encontrou a verdade. Acrescento ainda, para responder ao que me perguntavas com relação aos Acadêmicos, que julgo que não se pode encontrar a verdade. Esta não é somente a minha opinião arraigada que quase sempre professei como sabes, mas também a de grandes e excelentes filósofos, perante os quais nos obrigam a curvar a cabeça tanto a fraqueza do nosso espírito como a sagacidade deles, impossível, ao que parece, de superar.

– É isso o que eu queria, disse eu. Pois temia que fôssemos da mesma opinião e assim nossa discussão resultasse incompleta, por falta de alguém que, tomando o partido contrário, nos obrigasse a discutir e examinar a questão com toda a diligência possível. Se assim fosse, eu já estava pensando em pedir-te que assumisses a defesa dos Acadêmicos, afirmando que não só disputaram, mas também pensaram que não se pode conhecer a verdade. Trata-se, portanto, de saber entre nós se, segundo os argumentos deles, é provável que nada se pode conhecer e a nada se deve dar assentimento. Se conseguires demonstrar isso, sem dificuldade me darei por vencido. Mas se eu demonstrar que é muito mais provável que o sábio pode chegar à verdade e que não se deve sempre suspender o assentimento, creio que não terás como recusar-te a passar para a minha opinião.

A proposta agradou Alípio e aos presentes. Já envolvidos pelas sombras da noite, voltamos para casa.

(Postagem: Paulo Praxedes – Equipe do Blog Dominus Vobiscum – Referências: Veritatis  Suma Teológica  Ordem de Santo Agostinho  Patrística vol.24)

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Até o próximo post! E divulguem/compartilhem este estudo com seus amigos para que juntos possamos aprender com os doutores da nossa Igreja que é Una, Santa, Católica, Apostólica e Romana!

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